Para não esquecer...

O REI VAI NU

A leitura dos textos recentes no Ai jesus! suscitaram–me estes versos, os quais seguem no final. Provavelmente o sexo forte não os lerá; muito menos esse tal de Abdullah que às vezes faz comentários, cujos, como dizem os brasileiros, me dispenso de classificar.

Pois, pus-me a escrever estes versos, quiçá para ganhar coragem para ler a literatura produzida pela legislação diarreica sobre “educação”que a minha Coordenadora gentilmente mandou reproduzir e me entregou.

Quiçá para ganhar balanço para a árdua tarefa de corrigir testes no remanso e aconchego do meu lar, já que na escola onde lecciono foram retirados os aquecedores! Argumento: o sistema eléctrico não aguenta; por conseguinte, também não se aguenta o frio das salas viradas a poente.
E estamos no Algarve das mouras encantadas e das lendas de mulheres que se vingam e comem corações a frio no meio da floresta, ou lá o que é (Se a ASAE sabe, lá se vai o festim). Fruto, na certa, de mentes em tudo semelhantes às que queimavam bruxas nas fogueiras e colocavam letras escarlates ao peito das adúlteras e mães solteiras. Sempre me perguntei onde estavam os bruxos e os adúlteros! Os primeiros, como o Merlin, vagueavam pela floresta, mas inventando poções e outras coisas tão úteis aos guerreiros de antanho. Valha-nos a Fada Morgana e as boas fadas que desfizeram o feitiço da bruxa má e colocaram a salvação da Bela Adormecida nas mãos do Príncipe!

Tinha de ser: um Príncipe…

Mas estas mentiras embalavam a nossa infância; e quem não desejou ser salva/o por um príncipe? Era mentira, mas sabíamos que assim era.

And now… ladies and gentlemen?

Levantamos “o manto diáfano da fantasia”e gritamos que “o rei vai nu”, ou ficamos para sempre reféns dessa eterna cegueira de que falava o Almada?

E todos sabemos que ele acabou a diatribe com uma nota positiva.

A TODOS OS MENTIROSOS

“A mentira tem pernas curtas”!

Mentira.
A mentira tem braços longos.
De polvo amoroso enlaçando o par
Em
frenesi de dança nupcial.

A mentira não é piedosa.
Antes ardilosa.
Esconde-se sob o manto opaco da Verdade.

A mentira é (sub)traidora.
(Sub) trai, retrai.
Mas alastra, expande-se
Fermentando enganos,
dolos
Explodindo em girândolas de certezas
No horizonte estreito dos
incautos.

Para que dos Autos da Verdade um dia conste.

Ó Poeta!
Se fosses vivo
Assinarias de cruz estes versos que te deixo.


Faro,
30.01.08



O REI VAI NU ou
TODA A NUDEZ SERÁ CASTIGADA


“O rei vai nu!”,
Dizem-me da assistência,
Inconformada.

Mas que piada.

“ Vai nu, que eu bem vi
Quando se acercou de
mim. “

Mas que tolice, menina.
Essas coisas não se dizem!
Olhe a
sua Tia Alice …
Diga adeus ao Prior
Que leva o Nosso Senhor.
E ali
aquele andor.
Hoje faz tanto calor!

- Que belo vestido
Que a
senhora tem.
-Em breve terei outro,
Talvez p’ra semana que vem!


Vou falar àquela gente.
Há que ser previdente,
E o
banquete
É já p´ra semana.
Na casa do Doutor!
E o baile da
Assistência
De fama tamanha.
Mas que calor!

Menina, não me
agarre a mão!
Oiça mas é o sermão!

“Vai nu, sim senhor,
Vai nu,
que eu bem vi!

Faro, Junho de 2001


escrito por Gabriela Correia, Faro

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