Para não esquecer...

MOTOR DE AVIÃO EM CARROÇARIA DE AUTOMÓVEL

ME e sindicatos entendem-se

O ministério e os sindicatos da educação assinaram o anunciado "entendimento". Já aqui declarei que não concordo com este entendimento e reconheço que não é fácil analisá-lo "desapaixonadamente". Tentarei fazê-lo.

Penso, repito, que a força dos 100.000 manifestantes teria permitido ir mais longe do que este entendimento foi. Concedo que era manifestamente impossível, para já, destruir os documentos e as medidas legais mais gravosos que este governo pê-èsse impôs
[designadamente, a criação da categoria descabida de professor titular ou as cotas para progressão na carreira].
Mas dever-se-iam ter conseguido resultados mínimos como, por exemplo, não pôr em prática o actual modelo de avaliação. Em relação a tal modelo, a posição da plataforma sindical foi sempre algo ambígua: no seu jornal de Fevereiro passado, por exemplo, a Fenprof afirmava "a necessidade de suspender este processo de avaliação", mas logo a seguir acrescentava outra necessidade, a "de serem testadas as fichas antes de qualquer generalização", para concluir que este modelo "não serve ao bom funcionamento das escolas, ao bom desempenho dos docentes e às boas aprendizagens dos alunos". Uma no cravo, outra na ferradura; exactamente como neste "entendimento": diz a plataforma que "O forte recuo a que o ME foi obrigado" neste domínio "será um importante contributo para a estratégia de alteração profunda do modelo de avaliação". A verdade, no entanto, é que a plataforma entendeu permitir que este modelo
[segundo as suas palavras, "burocrático, incoerente, injusto, inadequado e inaplicável" (negrito meu)]
seja... aplicado.

E não adianta que dirigentes sindicais expliquem
[como na reunião em que estive, no chamado Dia D]
que o processo está suspenso neste ano e no próximo ano estará em experimentação, porque isso significa que o modelo está efectivamente a ser aplicado
[o que os sindicatos conseguiram foi a uniformidade de critérios de aplicação, neste ano. Da aplicação, insisto]
e a funcionar plenamente, mesmo que alguns resultados sejam atenuados
[como o que diz respeito às classificações "negativas"].
O que é que o governo pê-èsse conseguiu com este entendimento? No meu entendimento, conseguiu amortecer a força de 100.000 professores. Pelo menos em relação ao modelo de avaliação, a luta deixou de fazer sentido até Junho/Julho de 2009, altura em que ficou entendido que decorrerá o "processo negocial". Supuseram os sindicatos que a altura, próxima de eleições, será propícia à cedência do governo... como se este governo não tivesse já demonstrado saber lidar magnificamente com embaraços desses. Se a proximidade de eleições pode pressionar o governo, pode igualmente servir de motivo para desculpar a não introdução de alterações profundas. Aliás, temo que o tempo venha provar que o modelo em vigor é perfeitamente exequível: os professores estão habituados a fazer o pino
[a última demonstração disso: os exames em época extraordinária e recentemente anunciados, em Maio próximo; o ME ordenou que assim fosse -- e lá irão os professores cumprir, mesmo que seja num momento de grande trabalho por causa da avaliação final... e mesmo que seja trabalho extraordinário feito de borla].
Entendo os sindicatos neste ponto: não era fácil saber o que fazer com a força que lhes deram 100.000 professores
[de início, quando a manifestação foi convocada, ouvi dirigentes sindicais falar numa grande manifestação de... 40.000! E com 40.000 já teria sido bom...].
Nem a plataforma sonhou que a movimentação pudesse atingir as proporções que atingiu: de repente, viu-se com um motor de avião para colocar... numa carroçaria de automóvel; pôs de lado aquele motor, comprou outro melhor do que o velho... e ficou satisfeita por isso. Eu, não.

escrito por ai.valhamedeus [foto RTP]

5 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Que lhe disse eu, aquando da convocação da Manifestação em Lisboa?
Dei-lhe como exemplo o outro histórico recuo dos sindicatos na altura em que tinham todos, ou quase todos, os professores do seu lado.
Conseguimos coisas? Não. Ou talvez. Conseguimos o congelamento das fases até à mudança para os Escalões...perdendo tempo de serviço
Mas lembre-se de Borodino e do recuo das tropas do general russo Kutusov. A derrota e o recuo estratégico deram os seus frutos: Napoleão foi vencido e ... foi o começo do fim.
Resta saber quem é quem.
Mas Alá/Deus é grande!
Gabriela

Anónimo disse...

O entendimento está assinado: RIP!
Cabe agora aos professores, sobretudo aos mais de 60000 com os quais os sindicatos não contavam em 8 de Março, mostrar à plataforma, ao ME e aos socretinos em geral que estão equivocados e que a luta continua.
Em Viseu, já na próxima 2ª feira, mostrar-lhes-emos que nos não calam assim...

Anónimo disse...

Muito bem! Subscrevo integralmente esta análise; e se eu estava a pensar, finalmente, sindicalizar-me, recuo nessa intenção, pois não há ainda sindicatos que saibam defender e dignificar a carreira até às últimas consequências. Este acordo é uma vergonha e um desrespeito e a desilusão por este abalo é indescritível. Parabéns Milu!

Anónimo disse...

Excelente texto!
Tenho para mim, apesar do que pesa, que a napoleónica ministra recebeu algum oxigénio extra. Parafraseando Mark Twain, MLR pode, para já, anunciar: as notícias da minha morte foram bastante exageradas. Os sindicatos (ou a Plataforma) não andarão longe da notícia de idêntico teor. Enquanto as vozes de burro não chegam ao céu, (porque chegam!), era preciso, depois de resolvido o diferendo semântico entre "acordo" e "entendimento", resolver o que fazer com a trágica medeia que nos dispensa até Junho|Julho de 2009.
Também pode acontecer que os movimentos de professores (à margem dos sindicatos) recoloquem, de novo, os sindicatos em cima do carril, ou, pelo menos lho mostrem. Esta assinatura, ainda que tenha sintomas de paz, não passa de um interregno nas hostilidades. De resto, nenhuma solução foi encontrada, apenas adiada e 2009, é muito longe. Para a semana voltaremos à rua. Veremos se nos entendemos.
jcosta

Anónimo disse...

Desculpem lá! Estão a gozar?
Então os sindicatos assinam um acordo em que concordam com as regras da avaliação e agora convocam os professores para se manifestarem contra a avaliação?
Vão gozar com a avó deles?
Chegaram todos a um entendimento?
Que sejam muito felizes e tenham muitos meninos.