Para não esquecer...

A ACTA NO ALLGARVE

Sacrificando a praia, onde, valha a verdade, já fora de manhã, altura em que está mais livre de “turistas”, e fazendo uma pausa no trabalho -- elaboração de testes -- fui, no Domingo passado, ver teatro.

Adoro teatro quando o texto é poderoso, como o de “Stabat Mater”do Italiano António Tarantino, e é bem interpretado, como foi o caso, pela Maria João Luís. Recomendo vivamente ao meu putativo leitor, esta peça e sua soberba interpretação.

Mas voltando ao Domingo, às 4 da tarde, e com um sol esplendoroso, não é um horário propriamente da conveniência de qualquer um. Não importa, éramos poucos mas bons. E não utilizo o chavão à toa. Éramos exactamente 12 e entendidos no assunto, sem falsa modéstia. O texto é de Guy Foissy, francês nascido no Senegal, e é um texto bem actual. Olá se é! Aliás são 2 textos, soberbamente encenados e interpretados por 2 grandes actores: Paulo Matos e Luís Vicente que, para quem não é ou não reside no Allgarve, é o Director da ACTA -- Companhia de Teatro do Algarve.

“O Suicida” tem como tema o aproveitamento, por parte de certa imprensa e jornalistas, de actos do quotidiano envolvendo sangue, suor e lágrimas, tão ao gosto dos modernos “voyeuristas”das sociedades da (des) informação.

“O Segurança” espelha de um modo soberbo, (desculpem, não me ocorre outro adjectivo; talvez supino) a prepotência de quem se acha repentinamente com uma arma na mão e a quem é conferido o poder de julgar arbitrariamente os nossos inocentes actos, feitos sem qualquer outra intenção que não a que está à mostra, ou seja, à vista de quem quer ver e entender. O final é inesperado, mas o mais provável, se continuarmos a construir uma sociedade de medos e desconfianças, em nome de medidas securitárias.

Mais uma vez a entrega dos actores, sobretudo no segundo texto, é total e dá ganas de intervir; como aliás o verbalizou um espectador ao meu lado.

Se Brecht entendia que o teatro devia provocar no espectador uma sensação de Verfremdungseffekt, efeito de distanciação, para melhor entendermos a mensagem e sabermos que é uma peça de teatro que retrata a vida e dialecticamente nos envolvermos, (ao contrário do teatro =ilusão) aqui o espectador pode sentar-se em qualquer parte da sala e até no palco, onde me fui sentar na 2ª parte, parecendo então que nos encontrávamos na mesma rua onde se desenrolava a acção, como acontecia no Teatro Isabelino; e não nos iludimos: é a vida ali no palco.

Mais uma vez obrigada à ACTA, ao seu Director e ao encenador por nos trazerem teatro de qualidade, testemunhando assim que o Algarve não é só sol e praia.

No final, aplaudiu-se muito e em pé.

Que vos disse eu? Que éramos poucos, mas bons!

escrito por Gabriela Correia, Faro

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