Para não esquecer...

irreal quotidiano 7. O ÓPIO DO POVO

selecção nacional de futebol de Portugal[clique nas imagens para as ampliar]

Não vejo razão nenhuma para ter orgulho
[que, segundo me dizem, deveria ter]
naquilo a que chamam a selecção nacional.
  1. Se se tratasse de cientistas, daqueles que, volta e meia, fazem descobertas que contribuem para a cura ou tratamento de doenças
    [das minhas, também...]...
    Se se tratasse de escritor cuja obra
    [Nobelmente reconhecida ou não]
    me possa dar o prazer da leitura...

    Se se tratasse de artista cuja música me possa alegrar os dias...

    ...eu entendia a pica nacional. Agora... isso a que chamam selecção?! que raio tem a selecção que me possa impelir a cantar "Portugal olé!"?!...

    selecção nacional de futebol de Portugal...ou a ameaçar que "Até os comemos!"
    [na cama, a acreditarmos na imagem]?!
  2. É bem possível que o fenómeno desportivo profissional tenha tudo menos racionalidade
    [ou, mais uma vez, tenha a (ir)racionalidade dos senhores da economia].

    Europeu 2008
    Quando a tal selecção invadiu Viseu
    Europeu 2008[quando o autocarro passava nas ruas, a polícia sem mácula organizada parava o trânsito, como se de chefe de Estado se tratasse; quando a dita selecção foi recebida no Teatro da cidade, a rua teve o trânsito parado durante toda a manhã -- e carros de polícia, incluindo 4 de tropas especiais, "cercaram" as redondezas... Mas que é isto, meu Deus?!],
    Europeu 2008a Câmara invadiu a cidade com cartazes que chamavam a atenção para as rimas de Viseu com Europeu e de selecção com coração. Pois tudo isso rima, sim, senhor! E daí? Pura exploração da irracionalidade -- ou, se se preferir, pura publicidade política
    [digo eu].
    Europeu 2008Europeu 2008
  3. Em tempos ensinaram-me que a distinção entre propaganda e publicidade estava neste ponto: a segunda pretendia vender produtos, a primeira, dar a conhecer ideias. Por isso se devia falar em propaganda eleitoral e não em publicidade eleitoral. Duvido de que haja hoje razões empíricas para continuar a fazer essa distinção.
escrito por ai.valhamedeus

6 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Pois é... mas faz mais a selecção para a união dos portugueses do que todos os partidos, religiões, publicitários, demagogos, intelectuais... E se é disto quew o povo gosto, qual é o problema?
Como o povo despreza os intlectuais e os políticos que os intelectuais e políticos desprezem as manifestações populares mais sentidas, mas convinha perceber a psicologia dos povos (com a forte componente de irracionalidade) para pereceber o que estas manifestações representam.
era bom que a intelectualiadde baixa-se às multidões...
A. M.

Fantasia Musical disse...

Finalmente encontro alguém que pensa como eu! Não compreendo a euforia que se vive em torno do futebol, numa altura em que se vive tão mal em Portugal... Será o lema "beber para esquecer"?
Mas quando olho à minha volta, sinto que sou uma "ave rara"!

Anónimo disse...

Não, não é. Há muita gente contra esta "euforia", mais virtual e fabricada pelas televisões e apresentadores/comentadores ignorantes, do que real. Espertos estes senhores: eles fabricam o ópio e vendem-no aos consumidores que sem saber, ou sabendo, lhes pagam a dobrar: o ópio e as audiências. O governo fica contente e respira de alívio durante esta "bebedeira" nacional, invocando o orgulho nacional. Qual orgulho? O de continuarmos a deitar lixo para o chão, a escarrar no dito, a ler pasquins, a pagar a gasolina mais cara da Europa, a vermos os nossos filhos desempenhando trabalhos de escravos e mal pagos? A vermos os professores a tentar ensinar e a serem destratados? Ora, façam-me o favor!
O anónimo-comentador não tem razão:a intelectualidade baixa-se sim, ao povo. E aí é que está o mal. Era bom que se não baixasse, para o nível de instrução ser melhor.
Bom texto,ai.valha-me deus, subscrevo-o inteiramente. Aliás já me interrogara sobre a razão pela qual ainda não se pronunciara em relação ao "estado de sítio" que a presença de tão ilustres portugueses estaria a causar em terras de Viriato.
Gabriela

Anónimo disse...

"Pão e circo".Claro que esta histeria colectiva à volta da seleção faz parte da superestrutura ideológica do estado que tem por objectivo fazer esquecer as agruras desta Lusitânia. Tal como Fátima e a Mariza e o Mourinho. Assistem-se a cenas perfeitamente "surrealistas" como feijoadas em Neuchatel(só os TUGAS!) ou 3 canais televisivos a transmitirem a descolagem do avião que transportava os nossos "heróis" bem pagos, quais Gamas em demanda das Indias. Mas são tão poucas as alegrias deste povo que deixemos as pessoas festejar, especialmente os nossos exilados económicos. Só a seleção, o Tony Carreira e CGTP(felizmente) é que unem os portugueses. Muito há a dizer sobre o assunto, mas... deixem-nos gritar A Portuguesa mesmo que às vezes seja uma tontice. Os TUGAS são assim...!
Declaração de interesses: Gosto de futebol, touradas, sardinhadas,tinto,festas de Verão, Rachmaninov...José Afonso!! etc.
tótó55

Anónimo disse...

Ó tótó55, pois não vê que estas manifestações orquestradas nada têm que ver com os seus interesses genuínos e espontâneos?! Os políticos e os bancos vão atrás para colherem dividendos. Até as tias de Cascais vão às feiras de Carcavelos porque é muito bem, muito "in". O José Afonso gostava do autêntico, do genuíno e respeitava o povo.
E mais não digo. O que me aflige é a carneirada, a excrecência, a imitação. Acaba-se o futebol e adeus que te foste.
Gabriela

Anónimo disse...

E já que estamos numa de desvinculação futebolística, aqui fica o testemunho da minha antipatia por este jogo que põe dois bandos de matulões (escandalosamente bem pagos...) atrás de uma bola.
E multidões ávidas de grandes emoções (???!!) por verem a tal bola entrar na rede do "adversário".
E ainda dizem que os romanos eram loucos...