Novamente o Consultório publica uma missiva que não solicita resposta
[nem solicita nem eu me atrevo a inventá-la: trata-se de alguém acima de qualquer conselho -- alto dirigente partidário, devidamente identificado por mim de quem faz o favor de ser amigo, cuja identidade não revelo].Foi escrita ontem e diz assim:
Caro,E o trecho de Jorge de Sena:
Duas coisas a acabar a manhã de Domingo no escritório:
1. Uma, mais uma, triste notícia - acaba de falecer o António Costa Quinta, médico cardiologista, activo simpatizante do MRPP e do Partido, foi quem participou na libertação do Arnaldo Matos, sacando-o do Hospital Militar da Estrela.
2. Envio em anexo um trecho de um dos contos do Jorge de Sena, inserido nas "Novas Andanças do Demónio", que achei interessante - refere-se, no conto e na parte que envio, ao nosso Camões. Se, dentro da tua bagagem e memória literárias, também achares interessante e sobre a matéria não conheceres muito melhor, aproveita-o, nomeadamente para o blog.
Um abraço.
O amor para ele fora carne e espírito, tão carne, que nenhum espírito podia estar presente, e tão espírito, que nem toda a carne do mundo, usada dia e noite, chegava para contentá-lo. Até o fastio, que às vezes o afastava longamente de contactos carnais, era uma ardência insatisfeita, que se continha, suspensa e ameaçadora , à espera de esquecer que a carne era sempre igual, e os gestos do amor tão poucos que os sabia já de cor. Mas depois, ao fazê-los, era sempre, como na primeira vez, uma surpresa, uma ignorância curiosa, um receio tímido, uma insegurança doce, um pasmo juvenil, uma alegria nova, um encantamento frenético; era como na primeira iniciação, mas sem a perplexidade e a decepção de o amor não ser mais do que isso, quando a virtude do amor não está em ser mais do que é, mas em ser o prazer de não ser isso mesmo.escrito por ai.valhamedeus
Jorge de Sena
Novas Andanças do Demónio
Super Flumina Babylonis
0 comentário(s). Ler/reagir:
Enviar um comentário