[leia o capítulo anterior, se é necessário avivar a memória...]
Não sabia.-- Você não é daqui, pois não?
Olhou-o, a surpresa perante tão inopinada pergunta a reflectir-se no rosto que, alguém já lhe tinha dito, revelava sempre o que estava a pensar. Era tão transparente! Nunca conseguiria pôr-se na pele do patriarca da família Corleone, aconselhando o filho a nunca mostrar nas palavras, gesto ou mínimo trejeito que fosse, o que lhe ia no íntimo.
Não, não era dali.Afinal era de onde? Sentia-se amiúde uma estrangeira no próprio país; como os negros no país de Martin Luther King forçados a utilizar a porta das traseiras; como o D. Sancho que regressara ao seu primevo lugar, segundo os cronistas da cidade, meio escondido no lado esquerdo das escadarias dos noivos de Agosto, as vetustas pedras da Catedral, lavadas de fresco, a servirem de pano de fundo às suas costas de povoador. A impressão de não pertencer a lugar algum, a tristeza de foragida, de eterna turista em busca de um lugar a que chamasse seu.
-- É que a vi tão interessada na figura…, tornava ele. Se quiser, conto-lhe a história.Vamos lá então ouvi-la, e acomodou-se, atenta, tirando definitivamente os fones dos ouvidos.
Mas antes de poder começar a narrativa, já ele era solicitado por novos convivas do sol da esplanada: Olhe, faz favor!E lá foi ele apressado, no seu ganha-pão diário, deixando-me expectante e, agora sim, muito interessada na figura, que já se tinha ido, desaparecendo na dobra da rua.
[continua]
escrito por Gabriela Correia, Faro
6 comentário(s). Ler/reagir:
Se espera que os capítulos seguintes não sejam tão preguiçosos quanto o segundo.
E toma cuidado com o "homem da bandeja" não te saia nenhum camarinha amargo.
Não se preocupe, eu sei defender-me.
De anónimos é que nem por isso.
Gabriela
Este anónimo é inofensivo e ainda por cima com grande empatia com todo o pessoal da "aijesus".
Se uma vez por outra é um pouco mordaz, não é defeito, é feitio.
Sempre pensei que hoje ia ser o Dia do Ano.
Depois de todo aqueçe alarido só uma coisa podia justificar a comunicação do PR
Sócrates is ser demitido,
isto é ia, ganhar a vida com o canudinho que obtivera na Independente.
Afinal o senhor de Boliqueime está preocupado com os seus poderes.
Ora gaita
Quem está preocupado com isto tudo é o cidadão comum que cada vez mais vê o seu poder de compra deminuido, com a falta de emprego, com a falta de segurança, com os cuidados de saúde cada vez piores
e vem o PR falar-nos que alguém lhe quer tirar poderes!!!!!
Ora gaita outra vez.
Pior que esta interrupção de férias só as do Marocas quando um dia também as interrompeu para ir na Fragata D. Fernando para os Açores a ler Camões.
Ele há cada passarão!!!
Recordo o episódio caricato de Mário Soares.
Mas não foi na fragata D. Fernando mas sim na
Sagres -Caravela
Não confundir com a cerveja
Um, interrompe as férias para ler outro para fazer queixinhas
mais valia que os paizinhos de ambos tivessem interrompido outra coisa
A «figura» é o Soares ou o Cavaco? Eu digo que é o Zé de Sousa. É certo que o algarvio é quem mais facilmente desaparece nas dobras das ruas, mas o nortenho que emigrou para a Beira sempre se sentiu estrangeiro. Cá pra mim ele é a figura.
Continua.
PS: Por que será que a senhora Gabriela tem tanto medo dos anónimos? A verdade é que descobriu uma mina: enquanto se atira a eles como gato a bofe, não tem que argumentar.
Já agora, que identificação é mais precisa, completa e exacta, «gabriela» ou «anónimo»?
Carochinha Anónima
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