Ex.ma Sr.ª Ministra da Educação
Ex.ª,
É com todo o respeito que venho manifestar, em meu nome e no dos milhares de professores e educadores que recentemente exerceram a sua cidadania e direito democrático ao repúdio a este modelo de avaliação, e não à avaliação tout court, é com todo o respeito, repito, que venho manifestar a minha indignação face às afirmações de Vª. Ex.ª na Comunicação Social.
É com todo o respeito que, ao contrário de Vª Ex.ª que usou de falácias para despojar a nossa luta de significado e, mais uma vez, lançar uma certa opinião pública contra os referidos profissionais, é com todo o respeito, repito, que lhe venho exigir um pedido de desculpas públicas aos educadores e professores que apodou de preguiçosos e avessos à avaliação.
É em nome das famílias dos professores e educadores que se manifestaram ordeiramente nas ruas da capital, e em nome da minha filha de 26 anos, em particular, que sempre testemunhou toda uma vida de trabalho e dedicação ao ensino, que venho exigir uma reparação pública pelas mentiras de que venho sendo alvo, enquanto profissional da educação, devido à teimosia impositiva do Ministério que Vª Ex.ª lidera.
Sr.ª Ministra, com todo o respeito a interrogo sobre o único papel que temos de preencher. É que estamos todos muito desorientados e não sabemos a qual papel Vª Ex.ª se refere. Pela minha parte, tenho de preencher e entregar pelo menos três papéis com os meus Objectivos Individuais. Isto para começar. Mas admito estar equivocada. Então eu pergunto a Vª Ex.ª: como é que defendeu a necessidade deste modelo de avaliação para credibilização do sistema, da Educação lusa se quisermos, com base no preenchimento de um único papel? Qualquer professor de Filosofia, mesmo um dos “preguiçosos”, rebateria tal argumento.
Sr.ª Ministra, errar é humano. Parar para reflectir e negociar revela inteligência.
Sr.ª Ministra, nós, tal como Vª Ex.ª, queremos um ensino de qualidade e não temos tempo nem energias, nem condições para trabalhar com dignidade. Ao contrário do que o jornalista da revista Visão escreveu como sendo palavras de V. Ex.ª, e eu não duvido, o ratio de 9 alunos por professor é uma afirmação que ouso apelidar de, no mínimo, estranha. Onde fica esse país virtual? No meu país real, na minha escola real eu tenho 30 alunos numa turma, 27 noutra e 24 numa outra! Pois é, os frios números das estatísticas permitem-nos jogar a nosso talante.
Sr.ª Ministra, ainda que os números da manifestação fossem irrelevantes e inferiores ao anunciado, eles seriam sempre importantes indicadores do profundo desencantamento dos professores e educadores do país. Ainda que só se tivessem manifestado mil profissionais, esses profissionais mereceriam sempre o respeito de V. Ex.ª. Porque em democracia, as opiniões diversas são igualmente válidas e dignas de ser ouvidas e consideradas.
Sr.ª Ministra, V. Ex.ª afirmou que a nossa manifestação tinha por detrás os sindicatos, os partidos políticos. Sr.ª Ministra, faça-nos a justiça de reconhecer que são seres pensantes os profissionais a quem os pais entregam os filhos. Faça-nos a justiça de não insinuar que somos facilmente manipuláveis. A verdade é outra, a classe uniu-se como nunca graças à força da nossa razão e os Sindicatos apoiam a classe como é seu dever e organizam, pois são eles os que sabem de organização da contestação; os partidos políticos vêm a terreiro, pois é para isso que servem os partidos políticos eleitos por cidadãos de outras correntes, e não como meras figuras decorativas de um hemiciclo. Ou V. Ex.ª deseja silenciar outras vozes? Repudiar outras opiniões? Diabolizar outros sentires?
(já reconhecida por individualidade como o Dr. Daniel Sampaio, entre outros)
Com todo o respeito apresento desde já as minhas desculpas, se em qualquer altura desta minha indignação fui menos respeitosa. O cansaço é muito, o sol generoso do verão de São Martinho convida a uma ida à praia, que o Dr. Fernando Pádua aconselharia, pela minha saúde. Mas tenho testes para corrigir, aulas para preparar e objectivos para ultimar. E amanhã é dia de trabalho. Na escola, bem entendido. Em casa, já lhe perdi a conta.
[Gabriela Correia, 58 anos. Professora (Titular)]
escrito por Gabriela Correia, Faro
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