Hoje não é só Sábado. É Dia-de-Todos-os-Santos, como se sabe: sabem-no os crentes, os ateus e os agnósticos, creio! E até os alunos do 10º Ano.
Pelo menos os alunos duma turma, onde fui dar uma Aula de Substituição, em substituição, como o nome indica, de um colega que, farto de tudo, virou a mesa e pediu a reforma antecipada. Quem me dera!
Sem plano, sem rede, tive de me haver com os aprendentes de MACS. Não sabem o que isto é? “Atão”, é um “sucedâneo” da Matemática para alunos, como direi, mais avessos à dita. Como não sou da área e dado o meu gosto pela Língua Portuguesa e pela História, lá consegui interessar uns 3, não mais, e mantê-los na sala ENTRE AS 11.55 E AS 13.25. Não tendo os ditos mais nenhuma aula nesse dia! Não puderam ir para casa, não fosse esta estar vazia e o papão bater à porta, disfarçado da/o filha/o da vizinha do lado e acabar tudo numa grande orgia. E a culpa seria minha, e só minha! Maginem.
(e à Ministra que lhe importa?! Desde que a aulinha seja “dada”, no cumprimento da lei e para que os professores trabalhem realmente, as escolas que se amanhem…),
Lembrei-me, a páginas tantas, e porque vinha a talhe de foice, de lhes perguntar sobre os gostos literários de cada um em particular. Ensino individualizado, pois então! Perguntei o que lhes era actualmente ministrado na disciplina de Português e acabámos a falar dos Lusíadas, do Vasco da Gama, e… dos Feriados Nacionais. Só sabiam o do dia 1 de Novembro. Hoje, portanto.
Como os meus Santos residem no meu coração, onde os guardo avaramente, e deles só resta “pó, cinza e nada”, tive de ir fazer pela vida, alimentando-me.
Ora, ao poisar o carro no sítio do costume, lá divisei um arrumador a fazer pela dele. Mas não era um arrumador qualquer. Este tinha educação e, quiçá, instrução. Porventura terá frequentado um dos Cursos das Novas Oportunidades. Deu-me amavelmente os bons-dias, aconselhou-me a observar as medidas de segurança antes de abandonar o veículo prometeu reforçar a segurança do mesmo, dizendo que ia tomar muito bem conta dele, e só após este discurso, quando já me afastava do veículo, cumprindo à risca o que ele me aconselhara, é que ele atirou: “E então, não mereço uma moedinha?!”. Teve de certeza a disciplina de Psicologia Aplicada a elementos do chamado sexo fraco, de coração mole e maternal, temendo uma riscadela no veículo. Como não temo já nada, antes sou “temível”, segundo alguém, que não percebe nada de mulheres, sentenciou, fiz-me desentendida e surda, ignorei o apelo, e fui de rota batida em demanda do alimento existencial. Do outro bastam-me os decretos-lei desta equipa ministerial.
(Caramba, um agente da PSP não teria feito melhor!),
Na padaria, um homem de idade, pequeno e curvado, comprava três papossecos/moletes. Que raio de nomes! Entre um e outro, venha o diabo e escolha. Ou então o acordo ortográfico
[já sei, já sei, que este acordo nada tem a ver com o léxico. Estava a ser irónica e ignorante, a exemplo do Dr. Sousa Tavares, que percebe tanto de educação].O meu coração empedernido para o jovem arrumador derreteu-se, confrangido, perante a ruína humana. Perante o que os anos deixam e o tempo consome!
Não pude evitar a lembrança de Manoel de Oliveira e a sua postura de Homus Erectus! Em todos os sentidos. E desejei ardentemente acabar os meus dias a fazer fitas. Das boas.
Das outras já nos chega a actual equipa ministerial.
[Faro, Sábado, dia de compras e de Todos os Santos].
escrito por Gabriela Correia, Faro
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