Brotéria, é sabido, é nome de revista portuguesa jesuítica. Assume-se (explicitamente) como uma publicação de “Cristianismo e Cultura”.
O número 5/6 do vol. 162 (Maio/Junho 2006) reproduz a conferência que José Frazão Correia, jesuíta Director do Centro Académico de Braga, apresentou em Lisboa, a 16 de Março deste ano, no contexto da comemoração dos jubileus de S. Inácio de Loiola, S. Francisco Xavier e B. Pedro Fabro. Passar-lhe-ia por cima em velocidade TGV, não fosse o título chamar-me a atenção: “Inácio e os Exercícios Espirituais em tempos de ‘morangos com açúcar’”.
Os exercícios espirituais
(mais conhecidos por retiros)
são actividades
(espirituais, obviamente)
realizadas em certo isolamento com o objectivo de revitalizar e aprofundar a vida espiritual. Os célebres Exercícios Espirituais [século XVI] inacianos são um guia em que o autor propõe a sua fórmula dos exercícios espirituais.
(frequentemente sem comunicação verbal com os companheiros de retiro)
Dito isto, entende-se que a associação dos Exercícios com a telenovela Morangos com açúcar
[“fenómeno televisivo conhecido de todos, pelo menos por ouvir falar”]
(e leitores da revista)– e supõe-se bem, a julgar pela introdução do conferencista:
“[com esta associação] confesso que cedo um pouquinho ao gosto muito generalizado, ou a uma quase necessidade, de tudo temperar com uma pitadinha de provocação sedutora.escrito por ai.valhamedeus
Nos tempos que correm, o picante, o fantástico, o alternativo ou o provocador, parecem ser quase os únicos expedientes, uma espécie de condição sine qua non, para conseguir despertar e mobilizar espíritos super requisitados. No nosso abundantíssimo e variado mercado à la carte de ofertas e de possibilidades, mesmo que seja de coisas pias e santas, o desinteresse, se não mesmo a apatia, não são concorrentes que se possam bater facilmente. Por ser tanto e tão variado o que se diz e se oferece, poucas coisas conseguem tocar e, para que toquem, têm que conseguir proporcionar aquele toquezinho de novidade, de originalidade e de radicalidade ainda não experimentado. Por isso, se Inácio de Loiola não despertasse demasiado interesse, pelo menos, ligando-o a “morangos com açúcar”, nem que fosse apenas pela estranheza da relação, um certo frisson estaria garantido. Inácio perdoar-me-á".
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