O texto que a seguir transcrevo data de Novembro de 2007 e recuperei-o hoje quando andei a arrumar uns papéis. Creio que está actual. Ou não. / Ou não?
(O título é o que está supra mencionado)
A propósito do ranking das escolas secundárias portuguesas, foram tímidas e tardias as intervenções de responsáveis políticos na defesa das escolas públicas, varridas do top 10 pelas privadas. Gostava que tivessem sido mais rápidos, porque ainda sou dos que acreditam nas virtudes de um sistema público de ensino, na sua capacidade para terraplanar estratos sociais e contribuir, decisivamente, para essas coisas bonitas chamadas inclusão e igualdade de oportunidades. Porque ainda acredito que um sistema público decente e bem organizado me dá garantias de democracia.
As melhores da tabela são escolas privadas? Eis um facto que merece alguma reflexão. Para começar, porque nas privadas entram apenas os filhos dos que têm capacidade económica para as pagar. E esses são, à partida, susceptíveis de obter melhor rendimento escolar.
O ranking é constituído com base em números, as notas obtidas pelos alunos nos exames nacionais. Não contam no ranking a dedicação de professores e funcionários, a capacidade para mostrar às crianças o mundo real (não um aquário onde todos passamos férias na neve), a imaginação para ultrapassar as dificuldades do dia-a-dia. No ranking não entra o esforço para integrar minorias étnicas ou lançar pontes para os que vivem sem condições.
O ranking não nos diz quais são as melhores escolas do país; mostra-nos as escolas onde os alunos obtêm melhores notas.
Gostava de ter visto alguém do Governo falar disto antes que se instalasse a ideia de que o privado é que é bom. Mas não vi. Porque neste país o que está a dar é empurrar quem tenha um mínimo de condições financeiras para o sector privado, na educação como na saúde. E isso, a médio prazo, terá duas consequências: abandalhar o sistema público e criar um fosso social que só envergonha um país que quer ser do primeiro mundo.
[Luís Francisco – Sexta dimensão]
escrito por Gabriela Correia, Faro
4 comentário(s). Ler/reagir:
Em entrevista ao Publico, em 5.11/07 o professor de Ciência Política (ISCTE) André Freire, referindo-se aos rankings de 2007, dizia:
...bem podem os jornais de referência relativizar os rankings através da sua contextualização, bem podem os comentadores mais avisados recordar que "o ranking não nos diz quais são as melhores escolas do país; mostra-nos as escolas onde os alunos obtêm melhores notas (Luís Francisco, 2/11/07)", mas a verdade é que, com pouca ou nenhuma contextualização, ano após ano, as televisões vão mostrando as escolas privadas à frente das públicas e para o senso comum vai passando a ideia de que as primeiras são melhores que as segundas... Até porque a esmagadora maioria dos portugueses vê TV, mas não lê jornais... E problematizar os rankings exige alguma sofisticação...
Quando era ministro da Educação, David Justino procurou alicerçar devidamente o debate encomendando ao professor Sérgio Grácio um estudo sobre a performance das escolas que controlasse os factores contextuais essenciais (nomeadamente a origem sociocultural dos estudantes) para podermos aferir com precisão o mérito relativo dos diferentes estabelecimentos. O estudo não funcionou bem, não porque a ideia base não fosse correcta mas porque os níveis de análise (a escola e o concelho, em vez de ser o indivíduo e a escola) não eram os adequados.....
O que faltava a Sérgio Grácio era a informação sobre as origens sociais dos estudantes ao nível individual. Mas há algum obstáculo fundamental a que, preservando o anonimato dos estudantes e famílias, o Ministério da Educação passe a promover a recolha de tal informação aquando da realização dos exames? Creio que seria um grande serviço que prestaria à escola pública e à sociedade portuguesa.
Caro Alberto,
quer um "obstáculo fundamental"? ou quer mais? vou apenas sugerir-lhe um (mas, se quiser mais, diga, que se arranjam):
na escola onde "dou" aulas (chamemos-lhe EA), os alunos (deste ano lectivo) da turma X terão, nos exames, resultados superiores aos dos alunos da turma Y (são letras hipotéticas, só porque seria "chato" identificá-las).
Na mesma cidade, os alunos da escola EB (chamemos-lhe assim: só não especifico nomes porque seria "chato") das turmas equivalentes (refiro-me a áreas de estudo) aos alunos da escola EA terão resultados superiores aos desta. Tudo isto considerando os rankings.
1) Quer apostar?
2) Porquê tenho a certeza de que vou ganhar? (Pergunte. Qualquer professor com um mínimo de experiência lhe saberá responder...).
Nota final: os rankings servem para justificar (e agravar) determinadas políticas. Designadamente, a aposta nas escolas privadas (e, neste domínio, o p"s" ganha de certeza ao psd -- no número de boys que têm (lucros de) escolas privadas... Na zona centro, de certeza).
Nota finalíssima: não confundir os rankings com uma avaliação séria do sistema, com o objectivo de o melhorar. Isto é outra coisa...
To whom it may concern:
A propósito da (in)justiça dos rankings, leia-se o livro de Dulce Neto, "Difícil é Sentá-los", frase de uma prof. do ensino básico, aproveitada pela jornalista para título do seu livro, onde nos dá conta dos dados que recolheu sobre educação, em entrevitas a Marçal Grilo, quiçá um dos melhores Ministros da Educação. Mais explícito, explicativo e lógico não pode haver. O livro.
Esqueci-me de assinar o comentário anterior. Peço desculpa, deve ser por causa da data histórica: não, não é o ataque às torres gémeas(embora também seja), mas o colapso da nossa esperança, quando o resultado das análises ditou a morte anunciada do meu companheiro.
Gabriela
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