Para não esquecer...

O ESTORVO DA NET

Lê-se e não se acredita!

Em entrevista à escritora Alice Vieira, publicada no último JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, em resposta à pergunta da jornalista: O que fundamentalmente critica nas escolas?, ficamos
(eu pelo menos fiquei)
boquiabertos com o que a escritora nos conta:
O ensino é uma área realmente muito complicada. Ainda bem que nunca fui professora. Mas ando pelas escolas todos os dias e aflige-me o facilitismo que há por aí, o deixa andar, o não chatear os meninos. Isso é terrível, porque as crianças precisam de regras, de exigência. É preciso, por exemplo, habituá-las a trabalhar os textos e não apenas a copiar do computador. Aconteceu-me uma história fabulosa. Muitas vezes os miúdos olham para o computador, clicam e assinam por baixo. Um dia, cheguei a uma escola e a professora disse-me que os alunos se tinham esforçado muito a preparar a sessão e um até tinha feito a minha biografia. Levantou-se um rapaz já crescidote, sacou de um papel e começou a ler: Alice Vieira nasceu em Braga, cega de nascença, mãe solteira de cinco filhos, teve sempre grandes dificuldades de sobreviver, conseguindo apenas algum dinheiro que vai fazendo no seu lugar de peixe

Eu olhei para ele e perguntei-lhe se achava que aquilo correspondia a mim e ele respondeu que era o que lá estava na net. Fiquei desvairada. Mas essa foi apenas a primeira vez. Não se calcula as vezes em que depois isso já me aconteceu.
escrito por Gabriela Correia, Faro

19 comentário(s). Ler/reagir:

vitor m disse...

A visão da escritora é infelizmente exacta.
Sócrates e a sua sinistra poderiam talvez interrogar-se (se disso fossem capazes...) sobre a sua gigantesca contribuição para este estado de coisas...

Anónimo disse...

Ou seja, isto estava tudo bem até que chegou Sócrates e a sua sinistra.
Infantilismo e simplismo, não?

Há algo de inventado no que diz a escritora?
Poderia citar 40 casos más de igual desgraça.
Algum professor se atreve a negar a realidade?
Um dos graves problemas é que os BONS professores tomam tudo como ataque pessoal e tratam de justificar tudo, incluindo a porcaria que fazem os seus colegas.
E essa porcaria acaba por cair na cabeza deles.
Já chega de misticismos balofos. Quem as faz que as pague.
Claro que há professores de merda que deviam ser proibidos de entrar numa escola. Ou vamos justificar os pedófilos só porque são professores?
Há professores que cobram e não fazem nada. Por que raio devo eu defendê-los?
Que a tal ministra não presta? Já ninguém duvida. Nem sequer para nos livrar da porcaria que há nas escolas.
Mas que isso não nos leve a solidarizar-nos com quem nos quer levar à tumba.
Ao pão, pão; e ao vinho, vinho.

Ai meu Deus disse...

Simplismo (e talvez ignorância), há-o também nas palavras da escritora. Não digo que seja maioritário, mas há trabalho(s) (dos alunos) utilizando a net que são, no mínimo, dignos de respeito: é ver, como exemplo, os "sites de trabalho colaborativo".

Por outro lado, o "trabalho" de copy/paste é muito anterior à massificação dos computadores; estava, esta semana, a destruir papéis antigos e dei com bué de "trabalhos" de alunos escritos a esferográfica (porque não tinham outro modo de os escrever), literalmente copiados de enciclopédias e histórias da filosofia. O que as máquinas fizeram foi simplificar ao extremo o "trabalho", com a tal combinação copy/paste.

Há um último aspecto: as asneiras que há na (e se copiam da) net. Aqui a acção dos profes tem uma importância relevantíssima e consiste em ensinar os putos (e as miúdas) a distinguir os sítios fiáveis dos que não são -- e a confrontar (fontes de) informação.

...mas isto é demais para uma Alice Vieira (apesar de todo o respeito que possa merecer enquanto escritora). E a tentação de se falar do que se não sabe é enooooorme.

alberto disse...

Alice Vieira tem-se preocupado, já em entrevistas anteriores, com o “copy and paste” da Net usado pelos alunos nos seus trabalhos, embora não seja a pessoa indicada para tratar em profundidade o assunto.
Mas o problema é fonte de preocupação em muitos países. Temos o exemplo da “Association of Teachers and Lecturers” do Reino Unido em artigo de 18.1.2008, onde refere que em inquérito realizado a 300 docentes, o plágio da Net nos trabalhos entregues pelos alunos é um sério problema. O estudo, inclui algumas histórias relatadas pelos docentes: dois estudantes entregaram trabalhos idênticos sobre Romeu e Julieta e um trabalho dum aluno continha a publicidade da página copiada da web.
O PÚBLICO questionou o Ministério da Educação sobre se o problema do plágio é motivo de preocupação ou se já gerou algum tipo de orientação às escolas, mas não obteve resposta.
Os profes tem um importante papel, ao acompanhar e aconselhar os alunos na sua pesquisa aos textos das fontes fiáveis da net (que devem ser reveladas) e no trabalho de elaboração/tratamento dos alunos sobre esses textos, não se limitando ao “copy and paste” nem às “mantas de retalho” sem nexo de frases da Net.

Ai meu Deus disse...

Caro Alberto,

esse "problema" não é tão "sério" como por vezes se pretende. Por uma razão simples: a solução é mais ou menos simples. Passa, parece-me,
a) por uma formação a sério dos professores nesta área;
b) por uma re-flexão sobre a importância dos "trabalhos" feitos pelos alunos.

Eu sigo estes princípios (e penso ter resolvido, mais ou menos, o problema):

a) REJEITO (liminarmente) qualquer "trabalho" cuja autoria eu não tenha controlado. O controlo, faço-o através de "diários de bordo" dos trabalhos efectuados e pelo seguimento do processo de investigação, com aconselhamento nas várias fases do mesmo;

b) uso instrumentos de comparação dos trabalhos entregues com possíveis textos da net (há programas que o fazem e o Google é uma ajuda preciosa). Os alunos são informados destes princípios e significativamente penalizados se tentarem "aldrabar" o processo;

c) o trabalho de investigação do aluno é integrado na aula; além do professor, os restantes alunos devem ser sumariamente informados das investigações que os colegas vão fazendo...

... como será fácil de adivinhar, a maioria dos meus alunos dificilmente alinha nestas exigências... ;-) Ainda que devam escrever ensaio(s), a) muitos destes acabam por ter um peso mínimo na avaliação, por razões compreensíveis; b) alguns alunos acabam por ganhar alguma experiência com tais exigências...

Em suma, repito: talvez Alice Vieira devesse falar do que (e fazer o que) sabe...

Anónimo disse...

Sem querer tomar posição, e porque retirei de uma extensa entrevista apenas este "pedaço" que me inquietou, devo referir que a escritora, segundo ela diz, está habituadíssima a ir às escolas, maioritariamente do ensino básico, a convite das mesmas.
As escolas e os diferentes graus de ensino não são todos iguais, nem as idades dos alunos, nem os meios familiares e sociais dos mesmos;os do Secundário têm obrigação de ter outra postura perante a informação, por razões de idade, por exemplo.
Não sabemos se a professora teve tempo de supervisionar o trabalho do aluno, ou não.
Por outro lado, não devemos tomar a nuvem por Juno.
Claro que os bons exemplos, por norma, não são notícia.
Gabriela

Anónimo disse...

O que sabemos e o que não sabemos:
1. Sabemos que Alice Vieira foi a uma escola e ficou «desvairada» com o trabalho de um aluno.
2. Sabemos que foi à escola «a convite da mesma».
3. Não sabemos «se a professora teve tempo de supervisionar o trabalho do aluno».
Das duas, uma: ou supervisionou e nem se deu conta da barbaridade; ou não supervisionou e deixou tudo à sorte. Em ambos casos, pouca sorte! Se sorte se chama agora a responsabilidade.
Falta de tempo é desculpa demasiado barata. Se não teve tempo para o supervisionar, punha outro aluno. Ou será que não supervisionou nenhum?
Que fez ela então durante o tempo de preparação para essa visita?
A sua irresponsabilidade não se elimina mesmo que fosse portadora de um cento de prémios de qualidade docente.
Esse é o tema central de várias mensagens anteriores.
Por outro lado, este caso não belisca a epiderme de nenhum bom professor. E se não os belisca, por que se coçam?

Anónimo disse...

Coitadinho do aluno, ainda por cima crescidote como refere, e não inocentemente, a escritora, que não pensa pela própria cabeça!Bastava olhar para a dita senhora para ver que não era cega.
A desresponsabilização dos alunos é uma constante, tanto por parte da sociedade em geral como do ministério.
Gabriela
P.S.
Os anónimos também deviam ser responsáveis pelas opiniões e assinarem

vitor m disse...

1º anónimo, eu disse que este P"S" deu uma "gigantesca contribuição para este estado de coisas". Não afirmei que são os únicos responsáveis...
Às vezes vale a pena ler 2 vezes a mesma frase...

Anónimo disse...

Porque há desresponsabilização dos alunos, para equilibrar, desresponsabilizamos os professores e já está!
P.S.
Aceito a crítica. Para ser responsável pelas minhas opiniões, aqui fica a minha assinatura reconhecida.

Gabriela

J Alberto disse...

O que mais me preocupa neste pequeno debate é a falta de autocrítica da parte de alguns professores/as. Como se a defesa de classe devesse estar num nível superior ao da realidade e da verdade!
Não se esqueçam que os professores desonestos e incompetentes que vocês agora defendem (vá-se lá saber porquê) são vossos inimigos. E lembrem-se que não são vossos inimigos todos os que não defendem todos os professores.
Só será efectiva a defesa da classe, se a libertarmos dos parasitas que teimam em vider dela.

Anónimo disse...

Mais valia estar calada/o! Que até pode ser um anónimo

Anónimo disse...

Por acaso é "lembrem-se de que"...

Anónimo disse...

Gosto disto. O país está a ferro e fogo, literalmente. Não pára de arder. Jovens aprendem pela Internet a fabricar bombas e pegam fogo à mata. (Nas escolas ensina-se a preservá-la)O caso da TVI é o que se sabe. O Freeport está envolto em espessa nebulosa. Gastam-se rios de dinheiro (pago com os nossos impostos) na prevenção dos fogos e cada vez arde maior área florestal,etc., etc, Barrancos beneficiou de um indulto para poder matar touros, no que foi imitado por outros, indo contra a lei escrita, e os professores é que são eleitos pela opinião pública como o bode espiatório de todos os problemas que afligem o país.
Os portugueses no seu esplendor!
E já agora, J Alberto! eu escolho os meus amigos. Como resposta ao seu comentário, dir-lhe-ei que para eliminar os "maus" professores, não é preciso diabolizar a classe toda e penalizar todos os professores, sem excepção. Lá porque foi instituído um prémio para o melhor professor, isso não quer dizer nada.
A Alice Vieira foi aqui criticada por não saber do que fala, ela que vai às escolas há "bué de time", e os comentadores deste blog é que são experts nesta matéria!... Portuguese way!

Gabriela (a genuina)

Anónimo disse...

Peço perdão, expiatório! Acontece aos melhores.
Gabriela

Anónimo disse...

E já agora, Gabriela (genuina ou falsificada), diga lá que trapaça usei para interferir na escolha dos seus amigos.
E já agora, Gabriela, diga lá em que comentário diabolizei a classe toda e penalizei todos os professores, sem excepção.
E já agora, Gabriela, não penso eliminar ninguém, nem sequer os «maus». Tranquila!

J Alberto (talvez anónimo, mas irritado)

Anónimo disse...

Não se irrite, por quem é! Eu referia-me ao Ministério. Acredite que é verdade.
Você disse "se a libertarmos de todos os parasitas que teimam em viver dela". Como fará? É tão-só uma questão de forma, de palavras?
Se bem me lembro, um articulista bem conhecido da nossa praça,e sociólogo, disse um dia (que eu bem ouvi) que os amigos servem para dizer bem de nós.Senão (= caso contrário- logo a palavra escreve-se junto!), não eram nossos amigos.
Gabriela (a genuina)
P.S. Respondo-lhe porque você, embora irritado, é educado nas suas críticas interpelativas.
Peço desculpa se interpretei mal o que disse, mas você também interpretou mal o que escrevi. Talvez devesse ter escrito: como contraponto ao seu comentário, o Ministério não precisava, etc, etc.
Entendidos?
Eu estou tranquila. Já atingi a tranquilidade, é o que a idade nos traz. Para além das dores pontuais, reumático e assim (lol- para imitar os alunos)

J Alberto disse...

Se interpretei mal o que deveu ter escrito, prometo matricular-me num curso «on line» de adivinhação egípcia. ;-)

Uma forma de se sair dos parasitas é mudar a visão das coisas:
Se não se querem matar as carraças, pelo menos não impeçam que se banhe ao cão, porque as pobrezinhas se poderíam afogar.
E não desancar um exterminador de carraças por ter afirmado (sem ser psicólogo) que há donos de cães, piores que as carraças.

Questão de perspectiva...

Anónimo disse...

Foi o que fizeram o Sr. 1º Ministro e a Srª ministra da Educação: mudaram a visão das coisas. Ou ainda não se deu conta?
Gabriela
P.S- Tinha de descambar na agressividade quase explícita.
De irritado passou a irritante.
E por aqui me fico.