Para não esquecer...

UM SANTO NATAL E A CIMEIRA DE COPENHAGA

Nunca percebi por que razão se deseja um Santo Natal! Haverá outro tipo de Natal? Não interessa; a pergunta é apenas retórica. Muito menos a resposta
(se a houver)
à pergunta. O que me interessa é o desejo de paz e amor. Estes sim, são desejos concretos. No entanto, na sua concretização é que está o busílis da questão. Passe a rima. É que a paz não cai do céu, como a chuva. E até já esta, olhe lá!... Do amor nem é bom falar. De todos os amores, na verdade.

Falemos, porém, de um amor que é premente; de um amor que está para além dos gestos mais visíveis da ida à Missa do Galo, ou a outra; da compra de presentes, mais ou menos caros, para sinalizarmos o nosso “amor”pelo Outro. Não contesto nenhum destes gestos. E não é por receio do que possam pensar e escrever os muitos duques que por aqui pululam.

Falemos, então, do amor pela Natureza! “Antes que seja tarde”, como dizem Filipe Duarte Santos e Viriato Soromenho-Marques. Disseram! Antes de começar a cimeira dos “grandes” em Copenhaga. Pena que esses grandes os não tenham ouvido! Ou querido ouvir. Nem ao escritor Luís Sepúlveda. Por isso aqui deixo algumas afirmações dos referidos entendidos no assunto, para os meus putativos leitores delas tomarem conhecimento, ou relerem-nas, no intervalo de uma dentada nas rabanadas, filhoses, ou qualquer outra delícia da época, à revelia dos conselhos de nutricionistas encartados.

Temos de perceber que não podemos olhar para as alterações climáticas como um processo que está a ocorrer algures num laboratório onde somos observadores externos. Nós estamos dentro do laboratório, somos o laboratório (Soromenho-Marques)

Sempre tivemos alguma influência sobre o ambiente…, mas agora temos a capacidade de provocar alterações à escala global. E isso é novo… . Vivemos uma crise e temos de sair dela, porque se não o fizermos entramos em colapso. … Um estudo divulgado na Dinamarca referiu que, se não fizermos nada, chegaremos ao final do séc. XXI com mil milhões de pessoas, ou seja, voltaríamos à população que tínhamos em 1830 (Duarte Santos)

(Serão estes os escolhidos no final dos tempos como repetia a minha Avó, ao referir “a fim do mundo”? Segundo o romance do escritor Pepetela, serão menos. E em que continente/s escaparão? Pois, terão de ler o livro!)

No fundo, a crise climática foi diagnosticada primeiro pelas ciências naturais e da Terra, a física, a química, mas a solução está nas ciências humanas. É na política, na economia e no direito que a esperança pode surgir (Soromenho Marques).

Viu-se!

Mas todos nós teremos de enveredar por “Uma Cultura da Terra”. E já há muitas pessoas a enveredar por esse caminho. Lá fora, e cá dentro: Exemplos:

Quando há dois anos, o mundo clamou contra o aquecimento do planeta, numa mega operação que não conheceu fusos horários, o Live Earth, com uma panóplia de iniciativas, discursos e concertos em várias latitudes, os Artic Monkeys recusaram participar na mobilização planetária. …a energia necessária para suportar os espectáculos ia contra o próprio propósito de salvar a Terra. Era suficiente (a energia) para fornecer 10 casas. … Mais as viagens de avião previsíveis nas deslocações.

Quantos de nós não terão pensado o mesmo?

Cá dentro, os louros vão, por exemplo, para Jorge Pelicano, que este ano ganhou o Festival de Cinema Ecológico de Seia (Alô, Seia!), com Páre, Escute e Olhe. Na Literatura, também a Pinguin planta uma floresta para compensar o gasto de papel em livros. E é de sublinhar o Nobel gesto de Saramago que faz questão de editar a sua obra em papel reciclado.

E quanto a Luís Sepúlveda, o escritor activista do Greenpeace e autor de livros onde trata de questões ambientais, destaco partes de algumas respostas suas em entrevista ao JL:

Sente que existem cada vez mais escritores com essas (ambientais) preocupações?
Não. Na Literatura existe cada vez mais vaidade, estupidez e vontade de ser milionário.

Como cidadão, o que espera de Copenhaga?
Nada. É uma grande perda de tempo paga pelos cidadãos. Nem os Estados Unidos da América nem a China vão comprometer-se com nada que possa causar dano à sua perversa ideia de desenvolvimento. O combate pelo fim de tudo o que está mal, de tudo o que nos afecta, devemos travá-lo nos nossos bairros, cidades, regiões, países, passo a passo, participando como cidadãos e não nos escondendo atrás da cobardia do “eu não participo” ou “eu não voto”.

Um Santo e Ecológico Natal para todos vós!

escrito por Gabriela Correia, Faro

1 comentário(s). Ler/reagir:

vitor m disse...

Pena que a montanha-cimeira de Copenhaga tenha parido um insignificante rato...
Parece-me que andamos todos a assobiar para o lado, ou não?
Quanto ao Natal, não deveria antes chamar-se o(s) dia(s) do consumo desenfreado?