Deus não aparece no poema[José Tolentino de Mendonça]
apenas escutamos a sua voz de cinza
e assistimos sem compreender
a escuras perícias
A vida reclama inventários e detalhes
não a oiças
quando inutilmente prescruta as sequências
do seu trânsito
Só há um modo verdadeiro de rezar:
estende o teu corpo ao longo do barco
que desce silencioso o canal
e deixa que as folhas mortas dos bosques
te cubram.
[PS - Dedicado ao ai.valhamedeus e ao José Alberto]
escrito por Carlos M. E. Lopes
7 comentário(s). Ler/reagir:
Obrigado, Carlos, pela dedicatória.
Há outros modos verdadeiros de rezar. Prefiro ser eu a cobrir as folhas mortas dos bosques para lhes plantar encima uma pereira de inverno. Ou um marmeleiro.
"Para lhes plantar em cima." Encima é uma forma do verbo encimar. Por exemplo a coroa encima o capitel, ou qualquer coisa no género.
Perdoe a correcção! Deve ser defeito profissional
Gabriela
P.S. Espero não levar com o marmeleiro
"Encima" é uma forma do verbo encimar. E é a forma espanhola de dizer em cima.
Arrre! que defeitos profissionais tem determinada gente!... Mais incorrigíveis que os erros que quer corrigir. Arrre!
Peço desculpa a qualquer leitor que, obnubilado pela minha ignorância, não tenha percebido que, por em cima de tudo, só queria agradecer ao Dr. Carlos Lopes a dedicatória que encima o seu post. Sorry!
Com frequência desatam-se aqui cenas de pancadaria linguística.
Normalmente obedece a uma de três razões (ou a todas):
1. Exibição do saber de quem malha, tipo «vejam lá o muito que eu sei!»
2. Impedir que o leitor preste atenção à mensagem do post ou do comentário.
3. Porque é más fácil exibir-se usando um corrector ortográfico do que apresentar argumentos (até que se invente um corrector argumentativo).
Olhe que não, olhe que não! É mesmo a atitude altruista de defender a língua portuguesa.
Gabriela
P.S. Que seria de mim, sem os inteligentes e argutos anónimos! Sniff,sniff. Podem emendar-me se não for esta a onomatopeia. Eu não me importo. Gosto de aprender com quem sabe. E aprendo todos os dias! Aprendi que mesmo a brincar não se pode emendar as pessoas.Sobretudo as pessoas das quais não se esperaria que ficassem melindradas
Se os anónimos lhe causam tanto engulho, mantenhamos o debate entre «nónimos».
Creio que o problema não está só no facto de emendar. Pode estar também no seu gozo ao emendar. Sei que a vida deve ser vivida com gozo, mas não se pode passar a vida no gozo!
Se fosse realmente só a tal «atitude altruista de defender a língua portuguesa», bastaria ter usado uma excelente virtude linguística: a economia de palavras. Com "Para lhes plantar em cima." tinha dito tudo. O resto foi gozo descortês. Podia ter imaginado que, mesmo só com duas neuronas, eu dispensaria a definição e o exemplo.
Além disso, tem razão um dos anónimos porque hoje a ortografia está nas «mãos» dos corretores ortográficos. Ninguém sabe se você escreve sem erros ou é exímia no uso do corretor. Hoje, erros e boa escrita só mesmo nos manuscritos.
Sobre a questão ortográfica, um dia destes escreverei um post com um par de ideias muito pessoais sobre o purismo (que na maior das vezes é puritanismo.)
P.S. A onomatopeia está bem, só não entendi a relação que pretende estabelecer entre a falta de «os inteligentes e argutos anónimos» e a cocaína. ;-)
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