Para não esquecer...

AS SCUTS...

Em 1993 pertenci a um grupo que se opôs ao traçado da Via do Infante no Algarve. Dizia-nos o Governador Civil, Cabrita Neto, que a Via do Infante era uma espécie de auto-estrada, mas sem portagens. Isso não se punha. Lembro-me que eu lhe contrapunha a necessidade de reparar, alargar e melhorar outras estradas existentes, nomeadamente a 125 e a 270 e que o poder não o fazia porque isso não dava para inaugurar e para o ministro da altura, Ferreira do Amaral, se poder vangloriar de que não havia nenhum mapa de estradas em Portugal actualizado. Foi quase há vinte anos.

É óbvio que Cavaco e Guterres, enquanto houve dinheiro de Bruxelas, construiram auto-estradas a esmo, mas não repararam, nem rectificaram, nem conservaram as anteriores.

O automóvel é, como dizem os franceses, a vaca onde os governos vão buscar o "leite" de que precisam. Quando não há dinheiro, saca-se ao automobilista. Não há dinheiro, onde se vai buscar dinheiro? Ao automobilista! Foi assim com o selo, o seguro, o IVA, o Imposto automóvel, as inspecções, o chip...

Toda a dita polémica em torno das scuts gira em torno desta coisa simples: não há dinheiro.

A Visão, uma espécie de revistinha do PS moderado, publica um artigo de Filipe Luís em que este articulista defende o pagamento nas Scuts. E o argumento é falacioso
(como diria o aivalhamedeus).
Diz ele
"A própria ideia de obrigatoriedade de alternativa é falaciosa. Utilizadores e autarcas exigem "verdadeiras alternativas". O que é uma "verdadeira alternativa"? É que, se as alternativas tivessem de ser assim tão boas, por que diabo se havia de construir auto-estradas?"
Estupidez. É que os governos, os sucessivos governos, abandonaram as estradas existentes, deixaram-nas degradar-se, não as melhoraram, não as rectificaram. Em troca, deram-nos as Scuts que, como o nome indica, são "sem custos para os utilizadores"... e agora querem que paguemos? Querem um exemplo de desagregação? Veja-se a estrada do Algarve (IC1, antiga IP1) no troço Grândola-Alcácer, sobretudo. Ou a EN16, Viseu-Albergaria. Mas há inúmeros exemplos. Depois, não se queiram agora as mesmas estradas de há 20 ou 30 anos. A segurança, a quantidade e a fluidez de tráfico exigem outras condições. O tempo que estiveram a fazer auto-estradas, que reparassem e melhorassem as que tínhamos... Por outro lado, ofereceram
(aquilo que não podiam oferecer, pelos vistos)
e agora querem que paguemos? Criam a necessidade e depois... paguem?

Filipe Luís diz depois que os lisboetas, os que mais produzem para o PIB nacional, têm de pagar portagens. Ora pois. Se são os mais ricos, que paguem!

Mas estas políticas não foram só nas estradas. Nas pescas, Cavaco incentivou o abate dos barcos e já o ouvi dizer que as "as nossas pescas..."

O que me irrita em tudo isto é o governo não ter vergonha nenhuma. Tanto lhe faz dizer que não aumenta impostos, como, no dia seguinte, dizer que tem de os aumentar.

Vão bordamerda!

escrito por Carlos M. E. Lopes

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Pois. No caso concreto da A23 vir a ser portajada, onde é que estão as alternativas? No seu início, começando por Torres Novas, a alternativa são Avenidas, Rotundas e Estrangulamentos. Seguimos para o Entroncamento e a antiga E.N. mais parece um mar de buracos sem condições para o tráfego local. Atravessa-se o Entroncamento com Ruas, Viadutos e Rotundas em cima de Rotundas. Passa-se a Barquinha e aqui ainda não é mau. Vem Tancos com aqueles Estrangulamentos e Passagens de Nível com a complicação de se entrar num Polígono Militar sempre em Manobras. Depois vem Constância, uma Ponte, uma Rua, várias Rotundas e a confusão. Depois, pior ainda Rio de Moinhos e logo a seguir Abrantes a ser atravessada no seu perímetro urbano, com subidas e descidas, semáforos, mais uma Ponte, mais Rotundas, mais confusão. Não vale a pena continuar. Temos Alvega a seguir, tanta coisa que depois acabamos por esbarrar em Vila Velha de Ródão, em Alpedrinha, no Fundão ou na Covilhã. Será que vale a pena dizer que não há alternativas na A23? Nós sabemos que não há dinheiro porque foi mal gasto. Portanto só há que culpar quem permitiu todo o esbanjamento que aconteceu sem que as verdadeiras estradas, as ditas nacionais, tivessem sido recuperadas e não transformadas em Avenidas e Rotundas. Mas será que isto pode continuar sem se julgarem os verdadeiros culpados do estado a que isto chegou?