Para não esquecer...

[TALVEZ] BISONHO

Óscar Mascarenhas “volta” ao Ai Jesus!, desta feita para nos descrever o aborrecimento que vive na conversa de Cavaco-candidato que tem que trabalhar para a mulher, porque, em Portugal, ainda ninguém descobriu a reforma dela.

Vasco da Gama e … Pedro Álvares Cabral bem que podiam dar uma ajuda; enquanto isso, Luís de Camões psicografava um dos “quatro” cantos dos Lusíadas, por exemplo, o canto sudoeste Vesgo e bisonho!


O casaco fofinho

A velhota declina nome completo: «Maria de Fátima da Conceição Pereira.» O candidato, de passagem por Ponte de Lima, experimenta a textura do casaco da idosa: «É... é fofinho», elogia. «Pois é, é fofinho», concorda Maria de Fátima, para logo lhe dizer ao que vinha: «A ver se o Senhor Cavaco me arranjava qualquer coisinha, eu precisava de um bocadinho de reforma...» Alguns riem-se. A mulher olha descoroçoada para o candidato: «Não percebe...»

Cavaco Silva puxa a mulher por um braço: «Esta é a minha senhora. Esta senhora trabalhou praticamente a vida toda.» Maria de Fátima contrapõe, com voz sumida: «Também eu...» O candidato nem a ouve. Tem uma arenga para despachar, não pode perder a oportunidade: «Sabe qual é a reforma dela? Não chega a 800 euros por mês. Foi professora em Moçambique, em Portugal, mas ainda ninguém descobriu, em Portugal, a reforma da minha mulher. Portanto depende de mim, tenho de trabalhar para ela. Mas como ela está sempre ao meu lado e não atrás, merece a minha ajuda.»

Maria de Fátima vê assim «indeferido» o seu pedido de ajuda. Pudera! Quem a manda ir 'atrás' - e não 'ao lado' do candidato?...

É visível que as muitas dúvidas que têm sido levantadas acerca dos negócios de Cavaco Silva o deixaram de asa ferida e este choro sobre a reforma da mulher é o contra-ataque aos que lhe movem a «campanha suja». Mas contra-ataque vesgo e bisonho que não o deixa mais limpo, pelo contrário.

É pequena a reforma da senhora professora? Há três explicações para isso: ou os professores ganham muito mal - o que não consta; ou a senhora não trabalhou, afinal, «a vida inteira» e está a receber uma fracção proporcional ao tempo de serviço efectivo; ou o cálculo das pensões é um roubo ao trabalhador - coisa que nunca se ouviu Cavaco Silva denunciar em dez anos de primeiro-ministro e cinco de Presidente - mas não percamos a esperança, que ainda falta uma semana de campanha onde vale tudo, até promulgar os cortes salariais de Função Pública e
sair à rua a clamar que é uma injustiça, que muitos ricos ficaram de fora!

Como pode um candidato-presidente, perante uma modesta velhinha que teve a infeliz ingenuidade de lhe pedir ajuda na rua, queixar-se de que a mulher tem uma reforma pequenina - e que tem de ser sustentada por si, porque «merece»? Quantas piscinas municipais de chá precisa um homem destes de beber antes de ser digno do lugar que ocupa?

Vá-se lá embora em paz, senhora Maria de Fátima. Vai mais aconchegada no seu casaco fofinho do que com as lamúrias do «senhor Cavaco»

[JN, 17 de Janeiro de 2011]

escrito por Jerónimo Costa

2 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Por muito que lhe custe a si e outros tantos como você, o lugar que ocupa deve-se ao voto do povo - que eu saiba... não voto nele, nem em qualquer outro, mas não podemos estar a elogiar a democracia - mesmo que não gostemos dela - para a seguir, quando os eleitos não são do nosso gosto, fazer tudo para os denefrir, já que não podemos pura e simplesmente destitui-los do lugar... convém ler o contrato social do Rousseau para entender melhor os supostos "benefícios" da democracia electiva.
aliás para aquilo que rtepresenta o presidente em Portugal não se justifica uma eleição directa, que para mais é demasiado dispendiosa.
o resto são artifícios da campanha, este tem destas tiradas, o Coelho tem outras, os médicos idem, idem e o Alegre critica o conservadorismo do Cavaco face ao lugar da mulher na sociedade e embora se faça acompanhar pela respectiva esposa, nunca a ela se lhe ouviu o tom de voz, não será estranho? Ou a senhora é muda?
Enfim, estão bem uns para os outros e todos para os portugueses que neles votarem.
viva a democracia que nos levou á presente miséria... e estes actores que nos governaram desde 1974 até agora

Anónimo disse...

Como se antes de 74 não tivesse havido actores ainda melhores do que estes. Não, nessa altura eram todos puros. Veja-se os discursos de Salazar e Cª. E os cortes de fitinhas, e etc.
MC