Para não esquecer...

hoje é sábado 128 PENÉLOPE

Penélope ou o terceiro poema do português errante

Todos os dias pergunto por Penélope
todos os dias procuro o seu tapete
às vezes chego cansado ao fim da tarde
com todos os regressos bloqueados
e no meio das filas de trânsito procuro
o caminho perdido para Ítaca.

E quando bato à porta molhado até aos ossos
encharcado de chuva de tédio e de desastres
eis que por vezes surges de entre os filhos e as rotinas
aquela a quem perguntei se queria vir
quando bordava um tapete e eu tinha um barco.
Então eu lembro a casa no exílio
a pequena gravura de Ítaca
o poema de Cavafy
lembro o primeiro filho as fraldas o receio
de lhe pegar no colo e dar-lhe banho.

Passaram tantas luas tantos mares
mas tu abres a porta e estás à espera
ajudas-me a despir o sobretudo
e de repente eu sei que estou de volta
como Ulisses à tão amada Ítaca.
[Manuel Alegre]

escrito por Carlos M. E. Lopes

0 comentário(s). Ler/reagir: