Para não esquecer...

OS PROFESSORES APOSENTADOS E AS HOMENAGENS

Uma destas manhãs, estava eu muito remansadamente a tomar o meu pequeníssimo-almoço
(estamos em crise ou não?),
quando o telefone tocou. Havia um programa radiofónico nos meus tempos de menina que se intitulava: Quando o telefone toca. Aqui a música era outra: se estaria interessada numa homenagem aos professores aposentados este ano, por parte da Câmara Municipal. A escola forneceria o meu currículo à Câmara ou, querendo, a professora pode elaborar um de sua autoria. Não precisei de mais de um segundo para ponderar a gentileza, e declinei o convite. A voz do outro lado inquiriu incrédula: não está interessada? Assegurei-lhe que não e ela, de pronto, desligou.

Não me dei por satisfeita e, apesar de ser avessa a homenagens, resolvi telefonar ao Director da Escola. Para mais pormenores e esclarecimentos. Não é todos os dias que uma pessoa se aposenta, não é?

O resultado da conversa só veio fortalecer a minha posição.

Sem ofensa, homenagem para quê? Cortaram-me no salário, na reforma, vão retirar 50% ao meu subsídio de Natal, aumentam a água
(ou será o gás?)
e a luz, aumentaram-me o IMI em 42 euros, e agora querem fazer-me uma homenagem? “Umas palavras de circunstância, num sítio emblemático (?), uma placazita e talvez um livrito que a Câmara para lá tem a atafulhar espaço”, disse logo um cínico esclarecido, com quem partilhei a notícia. Quiçá!

Não quero fanfarras nem câmaras de televisão, mas o apreço pelas pessoas demonstra-se por outros meios. Não pelo menoscabo económico, entre outros, de um grupo profissional.

Ademais, a palavra aposentado/a põe-me pele de galinha. Ainda estou no activo: dou aulas numa Universidade Sénior. Graciosamente! E aí, sim. Recebo de boa vontade a lembrança de todos os anos. Singela, embora. Porém bem-vinda.

P.S. Quero aqui deixar bem claro que não me move qualquer sentimento pessoal nesta minha decisão. Nem em relação à Câmara, nem na pessoa do seu Presidente. Que, por acaso, partilha comigo um dos apelidos.

escrito por Gabriela Correia, Faro

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