Para não esquecer...

EX-CITAÇÕES * 109. um país zelig

Mudança de nome da estação do metro Baixa-Chiado para PT Bluestation…. Não se percebe o sentido da operação de propaganda. Alguém comenta: PT que os P.

O hábito de sofrer não se confunde com o masoquismo, é uma espécie de fair-play. Como se comprova com os portugueses. O que nos tem valido e desvalido – subsistimos sim, mas sem audácia – é a extraordinária capacidade de adaptação. Mesmo a aventura marítima parece um fenómeno de adaptação ao oceano, que era o que nos restava nesses tempos. Fernão Mendes Pinto contou tudo o que havia para contar. Portugal, país Zelig, habituado ao seu lugarzinho no cantinho esquerdo, ao fundo da fotografia. (…)

Os intérpretes do poder financeiro empurram-nos para trás no tempo com tal violência e velocidade que tropeçamos uns nos outros, às arrecuas. Invadem-nos tão rudemente a vida que não se distinguem dos tiranos das eras predecessoras, onde iremos parar não tarda nada, se continuarmos mudos. Como se não nos bastasse o terror dos fundamentalismos assassinos, eis que nos fabricam o terror dos mercados.
Dez anos depois (do 11-09-2011), o que é que andamos a fazer aos valores que outros tentaram destruir? Aplaudimos (bem) a rua árabe. Massacramos a nossa.

Boletim clínico matinal (8h 45min): Merkel falou, a bolsa abriu a subir. Eles ganham, nós suspiramos de alívio.
Não bastava casarmos com a princesa Kate ou com o príncipe do Mónaco. Agora enriquecemos com Amorim e empobrecemos com Salgado. Ou vice-versa.
Boletim clínico vespertino (18h): Merkel falará amanhã com Sarkosy. Colapso grego iminente (talvez adiado. Suspense.) Novo desvio colossal detectado pela troika nas contas portuguesas, novas medidas de austeridade. A gordura mantém-se, mas revestindo com estilo um esqueleto elegante. Se o esqueleto sobrevive ou não é outra história, que já não me pertence.


Julieta Monginho, magistrada do Ministério Público

escrito por Gabriela Correia, Faro

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