Para não esquecer...

PERIPLUS

No passado dia 15, na Biblioteca Municipal, foi apresentado o CD de Amélia Muge e do Grego Michales Lukovikas. É um belíssimo périplo, como o título sugere, pela cultura portuguesa, grega, e não só, a atestar que as diferenças entre nós não são afinal assim tantas, ou tão tamanhas assim. Ao meu ouvido de leiga, a toada das músicas gregas soa-me à toada das músicas do Norte de África, nomeadamente de Marrocos. Espero não estar a dizer uma barbaridade!

Pelo meio há também pragas algarvias, mornas, etc. Comprem para ouvir e crer!

Nós comprámos; isto é, os presentes! O magro público,
(helas, éramos poucos) 
não foi parco em elogios e muito menos quando chegou a hora de desatar os cordões à parca bolsa. O que levou a Amélia a exclamar, naquele seu jeito impulsivo e sincero: ainda bem que eu vim cá apresentar o disco! Ela, e o simpático grego de barbas brancas, a fazer-me lembrar o Georges Moustaki.

Prometi à Amélia divulgar o CD neste blogue, e é o que estou a fazer. Fá-lo-ia, mesmo que não tivesse prometido.

O último JL também o fez nas suas páginas dedicadas à música e aos novos discos. E leio: “…não é abusivo deduzir-se uma mensagem política deste Périplus
(e então!? Quem tem medo de Amélia Muge? Não se deveria ter antes medo da Marca Salazar? pergunto…)
E continuo a ler: … estas melodias de fusão afirmam uma identidade cultural, uma forma de estar e de sentir comum aos povos do mediterrâneo…

Isso mesmo sublinharam os seus autores. Daí, lembrei-me de lhes perguntar se já tinham pensado em apresentar o disco nos Parlamentos Português e Europeu. Ouvi um “Boa!” de uma voz do público; da Margarida Guerreiro, que dá voz às pragas. Recordo que esta Guida, para os amigos, é a mesma do grupo “As Moçoilas”, grupo que me foi “imposto” pela minha amiga Barbara Fellgiebel, no seu português de mais de 30 anos de residência em Portugal, mesclado de alemão: Gábriela, tens de ir ver as moçoilas, são ausgezeichnet! À época ainda não se falava de Angela Merkel nem da troika! Ademais, os povos não são os governos. A minha amiga ainda no outro dia afirmou que tem orgulho em ser minha amiga. O orgulho é recíproco. Foi ela que organizou o primeiro
(que eu saiba) 
Festival Internacional de Literatura no Algarve.

Aprendi uma coisa com a Amélia, que, por sua vez, ela aprendeu ao fazer este projecto: a frase “Navegar é preciso, viver não é preciso” não é de Fernando Pessoa, era o lema dos Argonautas que ele tomou de empréstimo. Preciso não é verbo; é adjectivo. Portanto, viver não é preciso; é impreciso. Ao passo que navegar é preciso. E quanto mais precisos forem os instrumentos, mais fácil será navegar.

Já em relação à vida, por vezes quantos mais tivermos, pior. Depende dos instrumentos, bem entendido. Agora já sou eu a falar.

escrito por Gabriela Correia, Faro

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