Para não esquecer...

LIVROS

A Delegação Regional de Faro da Secretaria de Estado da Cultura, em colaboração com a Universidade do Algarve e algumas associações, vai realizar um conjunto de encontros sobre alguns temas relacionados com a cultura. Fui convidado para falar de edição, o que não abona muito a favor da iniciativa.

Tenho pensado e lido sobre o assunto, tanto mais que há estudos e opinões para todos os gostos.

Toda a gente diz que o livro está em crise e em risco. Concordo. E daí?

Volta e meia vêm à baila as dificuldades que a Casa do Douro atravessa e que o Estado terá de ajudar para que a Casa possa desempenhar o seu papel importantíssimo na salvaguarda dessa riqueza que é o vinho do Porto (cito de cor e, por isso, deve haver algumas imprecisões). Eis se não alguém perguntou: mas desde quando o Vinho do Porto foi um caso de sucesso?

Mutatis mutandis, o mesmo se passa com o livro. Desde quando foi o livro um caso de sucesso? Há cerca de trinta anos pedi à Lello um livro do Camilo sobre o vinho do Porto. Uma daquelas polémicas em que o Camilo se metia, não tinha razão, mas vociferava, esgrimia argumentos, "esmagava" o adversário.

Surpreendido, verifico que o livro era de 1903 (!!!). Era uma segunda edição de capa dura e vermelha. A edição não indica o número de exemplares, mas não deverão ser muitos. Tenhamos em consideração aquilo que Machado de Assis diz sobre a edição de Stendhal de cem exemplares e que o Tomás Cubas pergunta, quantos leitores?

Ignoramos pois a edição e os leitores que Camilo teve deste livro, mas suponho que não devem ter sido muitos (tirando o Vasco Pulido Valente que leu, de rajada, a obra completa do Camilo e o Tomás Ribeiro a quem foi dedicado o livro).

Ora a crise do livro é como a crise do Vinho do Porto. Quando teve ele êxito?

O século XIX e mesmo parte do séc. XX, com 80% de analfabetos e os 20%, com uma literacia duvidosa, salvando-se para aí 10% destes, é apontado como o século, por excelência, do livro.

É óbvio que o livro era, a par do teatro (incluindo aqui a Ópera), o meio por excelência de transmissão de conhecimento e saber e que, com o cinema, a televisão, os computadores (hoje há uma panóplia de instrumentos que não havia) o livro deixou de ter a importância absoluta e relativa que teve. As livrarias fecham, é verdade. Mas as casas de música, com discos, não desapareceram mais depressa? Há dias, a FNAC metia dó, em matéria de oferta de música clássica. Prateleiras e prateleiras vazias.

Sobre as livrarias e o livro, se tiver disposição e os dois ou três leitores, paciência, volto depois.

escrito por Carlos M. E. Lopes

1 comentário(s). Ler/reagir:

Ilda Ribeiro disse...

Ouvi esta semana numa discussão sobre educação "que os livros relativamente aos outros meios de hoje em dia criam condições de desenvolvimento diferentes" dão oportunidade a quem lê de imaginar e raciocinar ...estou de acordo, o livro em minha opinião nunca será substituído totalmente pois proporciona uma meditação e um envolvimento diferente do écran. O raciocínio que estabelecemos para compreender ideias, enredos e hipóteses é bem diferente do que nos desperta o écran seja ele de computador ou de TV. Daí que com crise ou sem crise o livro será como o vinho do Porto, ficá.....