Tentei fugir da mancha mais escura
Que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
Era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
De não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
E em quartos interiores o cheiro a fruta
Que veste de frescura a escuridão...
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
O que me sai, sem voz, do coração.
[MOURÃO-FERREIRA, David, Lira de Bolso, Dom Quixote, Lisboa 1966, pág. 89]
escrito por Carlos M. E. Lopes
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