Para não esquecer...

TAUTOLOGIAS

[A pretexto do texto de Sousa Tavares, comentado neste artigo do Ai meu Deus]

O tudólogo Miguel de Sousa Tavares (MST) vive enclausurado entre a opinião e a propaganda. Enquanto produz opinião podemos sempre (se o lermos), dar-lhe o benefício da dúvida; militando na propaganda, dispomo-lo no espaço dos anúncios: consome quem quer. A questão, no entanto, por obra e graça da personagem, podendo resumir-se aos estilos que pratica, tem um alcance que urge explicitar, ora porque as opiniões são infundadas, ora porque a propaganda, sendo o que é, orienta-se engenhosamente pelo engano. Os textos de MST não resistem a uma análise lógica, terapia que o ajudaria a inclinar-se para a verdade, pelo menos dos factos, procurando-a. Dizer que ele é militante da falácia é como condecorá-lo com a “Ordem da Instrução Pública”. Ele sabe (?!) que o raciocínio (defeituoso) é o que mais colhe os descuidados, engrossando o número dos que vociferam com ele, tomando o duvidoso pelo genuíno e o presumível pelo consistente.

MST deve ser tratado, a meu ver, como retórico, sim, aquele que usa a persuaso e que é capaz de ganhar um auditório, não através de premissas sustentáveis, mas usando mentiras que parecem plausíveis, enquanto “verdades”. É assim que ele formula conclusões difíceis de contestar, usando e abusando do artifício. MST usa o ardil porque sabe que o palco, de onde se dirige aos crentes, lhe dá a suposta autoridade que, em conjunto com a larga experiência que o bafeja, lhe permite manipular cidadãos pouco esclarecidos – e são tantos – sobre os complexos meandros do ensino. Muitos são facilmente (e gostam de ser) enganados com tiros furtivos que, deixando feridas, demoram uma eternidade a curar, i. é, a esclarecer.

MST cumpre, aqui, uma função que, para além de ser remunerada por cada palavra, devia valer-lhe, pelo menos uma secretaria de estado. Se a ideia é a instauração de um conflito civil, usando, para já, o belicismo das palavras e o tempero do medo, o cronista, tendo cada vez mais detractores, não deixa de incorporar um exército ululante de fiéis seguidores, prontos para o combate às greves, aos sindicatos (jsd), aos professores, aos servidores do Estado (excepto os boys), aos aposentados (peste grisalha) e a tutti quanti, abarrotando de direitos, se devem contentar apenas com deveres. Daí às novas escravaturas vai um passo (já) menor do que a perna.

MST tem uma especial predilecção pelas sociedades esclavagistas (modernas), ou talvez não. Deve ser essa a sua próxima ficção. Que o encha de felicidade. Sobre as obscenidades que, uma vez mais, propala sobre os professores, para lhe responder, seria preciso desqualificar o nível da prosa e isso, fica inteiramente com ele.

escrito por Jerónimo Costa

5 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Afinal o que disse esse tal Miguel? Não é a mesma criatura tão elogiada - quase um mártir - da esquerda à direita - por ter um processo da presidência a pretexto de ter chamado palhaço ao Presidente?
têm que se entender, porque: 1. em Portugal, felizmente, ainda há liberdade de expressão;
2. o Miguel não é o único a pensar que esta greve foi iníqua e pouco "ética" - aqui seguiu a maioria dos portugueses;
3. que de facto é o jogo da democracia, mas faz pouco sentido que o sr Nogueira seja pago pelo dinheiro dos contribuintes para desempenhar uma profissão de que se ausentou há mais de 20 anos, na qual progride e espante-se é classificado com Bom;
4. que a arrogância dos sindicalistas em muitas das suas lutas prejudica imenso o bem comum - e o caso dos exames é flagrante...

Jcosta disse...

Caro|a anónimo|a,
o encanto do seu comentário deixou-me muito comovido. Sempre que alguém troca alhos por bugalhos, julgando ser esse o melhor tempero, não posso deixar de desconfiar que, além de cozinheiro duvidoso, ambiciona mais curar as feridas (é verdade, a infusão do pó do bugalho é cicatrizante e anti-séptico) do que saciar o apetite. Se considera que MST, na história do palhaço, de que, de resto, já se arrependeu publicamente, mereceu assim tantos elogios de todo o espectro político, está enganado. Cavaco há-de ser historicamente julgado (embora conheça alguns que o foram criminalmente), não por alegadas palhaçadas, mas por ter sido (sendo ainda) um dos principais responsáveis pelo estado deplorável em que todos (uns mais do que outros) nos encontramos.
Havendo “liberdade de expressão”, convinha também saber porque existem ainda os crimes de lesa-majestade (sendo que de norte a sul de país, como nunca aconteceu, não há pr nem membro do governo que se gabe de aparecer em público sem ser insultado); liberdade de expressão, meu caro!
Estou estarrecido com o seu medidor de opinião e com os seus argumentos sobre as greves. Greves sem ponta de iniquidade são aquelas que são feitas aos sábados e aos domingos, nas férias dos alunos, pelo Natal, Carnaval ou Páscoa e, quanto à ética, que depreendo que não saiba sequer o seu significado, deixo-lhe uma breve nota: a responsabilidade e o dever, apanágio da imensa maioria dos professores esteve presente no facto simples de que não foram os professores que encostaram este conjunto de medidas, insustentáveis para a sua profissão, ao período das avaliações e dos exames. Mais, foi sugerido ao titular da pasta que alterasse a data dos exames, impossibilidade que, mediante a greve geral, o sr. Ministro logo se dispôs a alterar, antecipando os exames do dia 27. Em matéria de ética, como na vida, diz o povo, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.
Sobre o Sr. Nogueira, que, nesta greve, é acompanhado por todos os dirigentes dos restantes sindicatos de professores, da CGTP à UGT, não é uma excepção; é uma regra e, tal como os outros, foi eleito democraticamente e é nessas condições, tal como os outros - e como dispõe a Constituição -, que exerce as suas funções. A democracia é cara, já o sabíamos. Gostava de o ver a perorar sobre as dívidas de vários milhões que os partidos devem ao estado e a tecer considerações menos elogiosas sobre os 12 euros que o Estado paga aos partidos por cada voto. Sem me deter sobre as mordomias que, em tempos de crise, há muito deveriam ter sido anuladas. Mas isso, certamente não lhe interessa.
Se me souber dar exemplos de alguma greve que não tenha prejudicado o que diz ser o bem comum (transportes, Controladores de voo, Pilotos da aviação civil, Médicos, enfermeiros, etc.), fico satisfeito porque, a mim, não me ocorre nenhuma. Por último quero dizer-lhe que os sindicatos e os sindicalistas, salvo raríssimas excepções (há sindicatos criados para fretes aos governos) têm contribuído, sem que isso provavelmente lhe ocorra, com intervenções, estudos, conferências e imensas participações que fazem das relações laborais caminhos de civilização para um mundo melhor. Mas, para si, por agora, o seu umbigo só vê exames; quem sabe, pode ser que um dia veja moinhos.

Anónimo disse...

Pois se a democracia é cara, não se queixem das contas que agora têm que pagar... eis que a factura chegou... ou querem que os alemães paguem a democracia portuguesa?
Depreende-se do que já disse que sou contra toda e qualquer pagamento do estado a associações sindicais e partidos políticos... num país sem dinheiro como o nosso essa é uma fatura que não se justifica. Os associados e partidários que paguem aos seus chefes e organizações que só fazem mal ao país, endividando-o cada vez mais... estou-me nas tintas para o que fazem os sindicatos, que no tempo actual na sociedade portuguesa é nada... falam, falam, falam... mas nem apresentam soluções, nem contribuem positivamente para a saída da crise... lutam pelos seus direitos individuais...
o meu amigo sabe mais de sindicatos que eu e sabe como a coisa funciona la por dentro, não vale a pena "dourar a pílula".
por acaso até sei alguma coisa de ética, mas não vale a pena discutir aqui, coisas que não interessam ao comum dos mortais.
Como suponho que defende um princípio comunitarista, ou comunista da sociedade, gostava que me explicasse se um professor que é um funcionário público, para além das especificidades da sua carreira, se acha bem que não esteja sujeito à lei geral do trabalho publico? acha bem que um auxiliar de educação ou um técnico de saúde possam ir para o quadro de mobilidade ou seja isso o que for e o professor estar meia vida activa com horário "zero", recusando qualquer outro lugar onde possa desempenhar a sua função?
Não vale a pena continuar a apupar os governantes nos quais não votei e não tenciono votar (nem nestes nem noutros nos próximos anos) pois a democracia tem-me trazido contas elevadas para pagar. sem resolvermos os nossos problemas, entre eles, o primeiro, pagar o que devemos, nada poderemos fazer. A crise é europeia e mundial... tudo o que as oposições dizem é pouco mais que nada... sem a mudança de paradigma não se resolve a crise e essa mudança infelizmente pouco ou nada depende de Portugal. Com este ou outro governo, a coisa será igual... deixam de apupar o Álvaro e passam a apupar o Zé ou o Manel, pois como diz o povo "casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão". Aliás os sindicalistas passaram anos a clamar contra a Lurdes, viram-na de lá para fora e num ápice fizeram do Crato o inimigo número um. Apesar de tudo não me parece que o Crato seja como a Lurdes - acho que há uma diferença incomensurável entre ambos... mas também de um povo sem memória o que se pode esperar?
Basta ver o profeta Soares a gaguejar para uma plateia de descontentes - aquele que de facto é um dos pais da miséria financeira actual de Portugal.
Era bom que de uma vez por todas os portugueses se convencessem de não há dinheiro e o caminho é apenas um: empobrecer. a estratégia é que pode ser diferente: ou empobrecemos de forma ordenada ou desordenada. A escolha é essa, o resto é conversa.

jcosta disse...

Caro|a anónimo|a

A maneira distinta como escolhe as palavras, a brandura com trata o teclado e as arestas vivas dos poliedros que espalha pelo “texto”, deixam-me pouca margem para o interpretar. Pelo esforço assombrado como o mundo lhe aparece em sonhos, só me ocorre deixar-lhe, aqui, uma quimera de um dos heterónimos de Pessoa:

“O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó
(O vento lá fora).”


Álvaro de Campos

Anónimo disse...

Fiquei feliz que tivesse usado o fantástico F Pessoa, conservador, monárquico e aquilo que os sindicalistas e comunistas costumam chamar de reaccionário. o mestre do paradoxo e por isso um dos portugueses meus favoritos.
também ficaria feliz que tivesse usado o camarada Saramago... afinal são dois vultos de Portugal que devem a sua fama não ás ideias políticas que defendem, mas ao génio da obra que criaram... pois é exactamente isso que eu penso: em Portugal acabou o tempo do taticismo. não há dinheiro, não actuam os palhaços... resta-nos apenas resolver os nossos problemas com obras singulares, com o génio de cada um de nós que não é tão pouco como se pensa. nada há para partir e muito pouco para repartir... o resto é viver na ilusão, talvez até ao dia que em Portugal aconteça o que está a acontecer na Grécia: não há mudanças, não há dinheiro para continuar os serviços, logo a porta é pura e simplesmente encerrada e as portas das escolas são muitas...