Para não esquecer...

hoje é sábado 249. EM PRISÕES BAIXAS FUI UM TEMPO ATADO

Em prisões baixas fui um tempo atado,
Vergonhoso castigo de meus erros;
Inda agora arrojando levo os ferros
Que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.
 
Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
Que Amor não quer cordeiros nem bezerros;
Vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
Parece-me que estava assi ordenado.
 
Contentei-me com pouco, conhecendo
Que era o contentamento vergonhoso,
Só por ver que cousa era viver ledo.
 
Mas minha estrela, que eu já agora entendo,
A Morte cega e o Caso duvidoso,
Me fizeram de gostos haver medo.
[Camões, Luís, Poesia Lírica, Editorial Verbo, Biblioteca Básica Verbo 32, s/l, pág. 92]

escrito por Carlos M. E. Lopes

0 comentário(s). Ler/reagir: