Para não esquecer...

hoje é sábado 261. de tarde


Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
[Verde, Cesário, O livro de Cesáro Verde, edição fac-similie comemorativa dos 500 anos da biblioteca da Universidade de Coimbra, A Bela e o Monstro Edições, 2014, pág. 69]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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