Este livro (OS MEMORÁVEIS) é um livro empurrado pela tristeza. Já não vejo poesia, quando olho para a rua, apenas uma crise que nos cerca e domina, limitando a nossa liberdade e felicidade. Interrogo a História e só vejo esquecimento. Este romance é a expressão da minha revolta…[Entrevista a Lídia Jorge sobre o seu último romance “Os Memoráveis”]
… Ao olharmos para estas quatro décadas percebemos que houve zonas em que não tocámos. Um bem transformou-se num mal….
… É impossível desmantelar um país de interesses subterrâneos de um momento para o outro. E isso conduziu-nos onde estamos hoje. Se calhar também houve uma certa apatia e imobilismo, o que não ajudou. A pouca acção e reacção prolongou o adormecimento….
… A minha resposta foi fazer o caminho inverso: voltar atrás para perceber se houve uma traição, quem nos traiu, como nos traímos….
…É injusto nascermos para a felicidade e não podermos alcançá-la. Mais: nascermos para a fraternidade e não a cumprirmos….
… Portugal vendeu-se à economia de mercado, à Europa, que trata melhor da casota das galinhas do que da casa das pessoas….
… Mas o país não é o mesmo. Isso ninguém pode esquecer. A liberdade foi uma conquista extraordinária…
…Interessam-me os heróis da retirada, na feliz expressão de Eisenberg. Que fazem grandes coisas e saem de cena…
…É por isso que Salgueiro Maia é o herói perfeito….
… Escrevi O DIA DOS PRODÍGIOS para não esquecer um tempo que ia desaparecer. Este foi para compreender o tempo que está para vir. Enquanto aquele era a balada de um tempo arcaico, este é a crónica de uma conquista imperfeita….
… Por estas páginas passa a minha carne.
escrito por Gabriela Correia, Faro
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