Para não esquecer...

hoje é sábado 266. PAÍS DE ABRIL

A Ernesto Melo Antunes

São tristes as cidades sob a chuva
e as canções que se atiram contra as grades
- minha pátria vestida de viúva
entre as grades e a chuva das cidades.

É triste o cão que ladra no canil
quando é março ou abril e lhe prendem as pernas
é triste a primavera no País de Abril
- minha pátria perfil de mágoas e tabernas.

É triste: uns vestem-se de Abril outros de trapos.
Tu ó estrangeiro é só por fora que nos olhas
- minha pátria bordada de farrapos
capa de trapos remendada a verdes folhas.

Abril tão triste no País de Abril. Por fora
é tudo verde. (Abril com máscaras de festa).
Por dentro - minha pátria a rir como quem chora
(A festa da tristeza é tudo o que lhe resta).

Abril tão triste no País de Abril. Aqui
a noite. Aqui a dor. Meninos velhos
- minha pátria a chorar como quem ri
em surdina em silêncio. E de joelhos.
[Alegre, Manuel, País de Abril, uma antologia, Dom Quixote, Lisboa 2014, pág. 13]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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