Vai-te na asa negra da desgraça,
pensamento de amor, sombra duma hora,
que abracei com delírio, vai-te embora,
como nuvem que o vento impele ... e passa.
Que arrojemos de nós quem mais se abraça,
com mais ânsia, à nossa alma! E quem devora
desta alma o sangue, com que mais vigora,
como amigo comunge à mesma taça!
Que seja sonho apenas a esperança,
enquanto a dor eternamente assiste,
e só engane a desventura!
Se em silêncio sofrer vingança!...
Envolver-te em ti mesma, ó alma triste,
talvez sem esperança haja ventura!
[Quental, Antero, Sonetos, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1984, 7ª edição, pág. 24]
escrito por Carlos M. E. Lopes
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