Para não esquecer...

hoje é sábado 318. NO PAÍS

no  país  no  país  no  país  onde  os  homens
são só até ao joelho
e  o  joelho  que  bom é  só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno

e  no  país  no  país  e  no  país  país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história de amor só até ao pescoço

e  no  pais  no  pais  que  engraçado  no  pais
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma - ora ai está -
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)

diz que grandeza de alma. Honestos porque
Calafetagem por motivo de obras.
relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no pais onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato
[Cesariny, Uma grande Razão – Os Poemas maiores, Assírio & Alvim, 2007, pág. 31-32]
escrito por Carlos M. E. Lopes

0 comentário(s). Ler/reagir: