Sempre fui muito resistente a comemorações. Uma data da nossa história que acompanhei desde o início foi o 25 de abril. É natural que tais celebrações vão perdendo ímpeto e significado com o passar do tempo. Basta recordar o 5 de outubro. Ainda assistimos à parada com sobreviventes, medalhados, perfilados, emocionados. Mas, hoje, o que é? Um dia que gostaríamos que fosse sempre à sexta ou à segunda-feira…
O mesmo se passa com o 25 de abril.
[comemorações do 25 de Abril, na Lousã]
As comemorações são um arrastar de discursos (alguns interessantes) e um dia para ir à praia. A maioria da população não era nascida a 25 de abril. As pessoas têm uma vaga ideia do que era o Portugal antes do 25 de abril. Não temos sabido transmitir a ideia do que era o Portugal no tempo de Salazar e Caetano. Pelo contrário, assistimos a um ressurgimento de ideias salazarentas, com grande respaldo na nossa juventude. Que fazer? Acho que nada. Temos a sensação de que sabemos onde isto vai parar, mas sentimo-nos impotentes (eu, pelo menos). As comemorações queridas pelo poder político não é mais do que tem sido a AR desde que foi decretado o Estado de Emergência. Mas há uma contestação generalizada e forte à sua realização.
Há os que entendem que, perante o Estado de emergência, não deveria haver qualquer comemoração. O Estado deveria dar o exemplo e não comemorar essa data com uma sessão solene na AR.
Há os que, sob o pretexto da pandemia, querem acabar com as comemorações do 25 de abril e qualquer vestígio do 25 de abril, antes um retorno ao antes (ao Portugal colonial, uno do Minho a Timor, sem racismo e sem discriminações que o Império nos deu).
À boleia da pandemia, toda a direita atual, sem peias nem memória, solta o seu ódio sobre a classe política (que se tem posto a jeito), aos partidos, à AR, e tudo o que cheire a democracia, solidariedade e Estado social. “Os ciganos querem dedicar-se à política? vergonha!”
Ah, e há os que, como eu, se estão borrifando para isto. É uma posição comodista, cobarde, oportunista, mas não deixa de ser, objetivamente, a minha.
Sempre disse que este tempo viria. Quando se dizia o “fascismo nunca mais”, eu sempre disse que ele viria com outras roupagens. Ele está aí, não tenham dúvidas. E não há antifascismo que nos valha.
Esta batalha está a ser ganha pela direita radical. Não tenho dúvidas.
escrito por Carlos M. E. Lopes
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