O cantor Braulio Lopez, uma das metades do duo Los Olimareños, chegou a Barcelona, chegou ao exílio. Vinha com uma mão partida. Braulio tinha estado preso, na cadeia de Villa Devoto, por andar com três livros: uma biografia de José Artigas, uns poemas de Antonio Machado e o Principezinho, de Sainte-Exupéry. Já perto de o libertarem, um guarda entrou na cela dele e perguntou-lhe:
- És tu o violeiro?
E pisou-lhe a mão esquerda com a bota.
Propus-lhe uma entrevista. Essa história poderia interessar à revista
Triunfo. Mas Braulio coçou a cabeça, pensou um pouco e disse:
- Não.
E explicou-me:
- Isto da mão há de compor-se, mais cedo ou mais tarde. E nessa[Eduardo Galeano, O Livros do Abraços]
altura vou voltar a tocar e a cantar. Percebes? Não quero desconfiar
dos aplausos.
escrito por Carlos M. E. Lopes
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