Para não esquecer...

EU CONHEÇO UM PAÍS...

Tendo-me aparecido no meu telemóvel um artigo escrito pelo Nicolau Santos, ex-director do Expresso e actual director da Lusa, não consegui resistir a escrever um texto sobre aquele artigo...

1. Artigo do Nicolau Santos

Eu conheço um país que em 30 anos passou de uma das piores taxas de mortalidade infantil (80 por mil) para a quarta mais baixa taxa a nível mundial (3 por mil). 
Que em oito anos construiu o segundo mais importante registo europeu de dadores de medula óssea, indispensável no combate às doenças leucémicas. Que é líder mundial no transplante de fígado e está em segundo lugar no transplante de rins. 
Que é líder mundial na aplicação de implantes imediatos e próteses dentárias fixas para desdentados totais.
Eu conheço um país que tem uma empresa que desenvolveu um software para eliminação do papel enquanto suporte do registo clínico nos hospitais (Alert), outra que é uma das maiores empresas ibéricas na informatização de farmácias (Glint) e outra que inventou o primeiro antiepilético de raiz portuguesa (Bial). 
Eu conheço um país que é líder mundial no sector da energia renovável e o quarto maior produtor de energia eólica do mundo, que também está a constuir o maior plano de barragens (dez) a nível europeu (EDP). 
Eu conheço um país que inventou e desenvolveu o primeiro sistema mundial de pagamentos pré-pagos para telemóveis (PT), que é líder mundial em software de identificação (NDrive), que tem uma empresa que corrige e detecta as falhas do sistema informático da Nasa (Critical)e que tem a melhor incubadora de empresas do mundo (Instituto Pedro Nunes da Universidade de Coimbra) 
Eu conheço um país que calça cem milhões de pessoas em todo o mundo e que produz o segundo calçado mais caro a nível planetário, logo a seguir ao italiano. E que fabrica lençóis inovadores, com diferentes odores e propriedades anti-germes, onde dormem, por exemplo, 30 milhões de americanos. 
Eu conheço um país que é o «state of art» nos moldes de plástico e líder mundial de tecnologia de transformadores de energia (Efacec) e que revolucionou o conceito do papel higiénico(Renova).Eu conheço um país que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial e que desenvolveu um sistema inovador de pagar nas portagens das auto-estradas (Via Verde). 
Eu conheço um país que revolucionou o sector da distribuição, que ganha prémios pela construção de centros comerciais noutros países (Sonae Sierra) e que lidera destacadíssimo o sector do «hard-discount» na Polónia (Jerónimo Martins). 
Eu conheço um país que fabrica os fatos de banho que pulverizaram recordes nos Jogos Olímpicos de Pequim, que vestiu dez das selecções hípicas que estiveram nesses Jogos, que é o maior produtor mundial de caiaques para desporto, que tem uma das melhores seleções de futebol do mundo, o melhor treinador do planeta (José Mourinho) e um dos melhores jogadores (Cristiano Ronaldo). 
Eu conheço um país que tem um Prémio Nobel da Literatura (José Saramago), uma das mais notáveis intérpretes de Mozart (Maria João Pires) e vários pintores e escultores reconhecidos internacionalmente (Paula Rego, Júlio Pomar, Maria Helena Vieira da Silva, João Cutileiro). 
O leitor, possivelmente, não reconhece neste país aquele em que vive. Este país é Portugal. Tem tudo o que está escrito acima, mais um sol maravilhoso, uma luz deslumbrante, praias fabulosas, ótima gastronomia. Bem-vindo a este país que não conhece: PORTUGAL. 
O país que continua a ser um exemplo de civismo, o meu país.
[De Nicolau Santos in Revista Up da TAP]


2. Meu Comentário
Será que é o mesmo país que eu, e muitos conhecem como um dos países com os índices mais altos de pobreza e das maiores dívidas públicas da Europa? 
Será o mesmo país, cujos governantes desde o PSD ao CDS de Coelho e Portas, passando pelo PS de Costa e suas muletas BE e PCP, têm vendido a sua soberania à Tróica de gatunos imperialistas que humilharam os trabalhadores, roubaram os seus salários e as suas reformas, liquidaram o seu SNS, tornando essa liquidação responsável por mortes nas listas de espera e nas urgências e agora pelas vítimas evitáveis desta pandemia? 
Será o mesmo país em que estão à solta e nem acusados foram os maiores burlões da banca, como Salgado, Rendeiros e Cia, de bancos cujas falências estão a custar milhares de milhões de euros ao erário público, enquanto a pouca dotação orçamental de um tal Centeno (esqueceu-se deste Ronaldo) para a saúde passou a ser cativada para aquele efeito? 
Será o mesmo país dos poucos que tem tropas suas em vários países do mundo a proteger os interesses imperialistas de franceses e americanos? 
Será o mesmo país de onde emigraram quase um milhão de jovens e trabalhadores (designadamente na saúde onde agora tanta falta fazem) nos últimos 10 anos para procurarem lá fora o seu ganha-pão? 
Será que é o mesmo país onde os ricos e vigaristas estão agora refastelados a fazer a “quarentena” nos seus palacetes, ou a ser tratados em hospitais particulares onde nada falta, enquanto os trabalhadores das empresas dos mesmos são despedidos ou confinados, melhor, empilhados, em tugúrios e se puserem o nariz de fora ainda se arriscam a levar porrada ou a serem presos? 
É que eu conheço esse país e chama-se Portugal. Se calhar, o sr. ainda não passou por lá ou, então, quer fazer-nos passar por parvos. E é curioso que muitos, senão todos, dos feitos referidos pelo Sr. Nicolau - patriota de pacotilha -, ou são de pessoas que não se identificam com a política que tem governado o país que conheço com o mesmo nome, ou então foram apropriados por especuladores e capitalistas que agora aparecem como grandes beneméritos do povo; povo que passaram todo o tempo a explorar e à custa do qual, nesta altura, continuam a fazer fortunas fabulosas e especulativas à pala do combate à epidemia. 
O Sr. Nicolau passou a ser mais um elemento da banda do Marcelo e Costa a cantar a idiota e ridícula cançoneta dos patrioteiros “ Ganhámos! Ganhámos! Portugal, Portugal ”. Não se ponha a pau, sr. Nicolau, e ainda vai engolir esta cantiga, se tiver o azar, que em qualquer caso não lhe desejo, de não conseguir comprar uma máscara ou desinfectante, e for apanhado pelo vírus por não haver testes, ou ir desta para melhor se não tiver uma cama num hospital ou lhe faltar um ventilador. A não ser que um bom lacaio director da Lusa tenha um tratamento especial. 
E, já agora, em matéria de civismo do seu Portugal, não sei se já se deu conta de que há também um outro Portugal onde o “civismo”dos patrões se começou já a manifestar com centenas de despedimentos de trabalhadores indefesos e à mercê de um governo e de um presidente que, em lugar de assegurar condições de vida (designadamente de habitação e apoio familiar) e de assistência à esmagadora maioria dos trabalhadores para que possam proteger a sua vida, opta pela “cívica” ameaça do cacete e da prisão. 
E, mesmo para terminar, o Sr. Nicolau também não conhece - ou faz-se ignorante - o único país da Europa onde a polícia assassina operários por espancamento no aeroporto da capital e em que o chefe desses assassinos - um tal ministro Cabrita com um longo cadastro de mortes em incêndios e outros crimes em esquadras - não é imediatamente demitido pelo seu patrão Costa igualmente responsável, e os esbirros à sua ordem ainda vão para casa para, coitadinhos, não serem contaminados pelo vírus? Pois esse país chama-se Portugal, um país cuja realidade o sr. esconde, com particular gravidade por ser o gauleiter da informação. Um dia o sr. verá o que é o verdadeiro civismo do povo português quando este correr de vez com a corja que o tem explorado e martirizado.
[escrito por Carlos Paisana]

1 comentário(s). Ler/reagir:

Carlos Lopes disse...

Cheira-me a MRPP