Fui ao LIDL. Dirigi-me à Caixa e pus-me na bicha. A menina avisou que a caixa 4 ia abrir. O inglês, atrás de mim, lépido, ocupou o primeiro lugar, com aquele ar de quem detesta viver no meio destes parolos. Foi, claro, o primeiro a ser atendido. Nos velhos tempos na Cantina Velha, o meu cunhado teria saído da bicha, chegado ao pé dele e tê-lo-ia obrigado a ir para o seu lugar. O meu sorriso cínico não se viu por detrás da máscara.
Transportava cinco ou seis volumes, pequenos. Não quis saco por questões económicas e ambientais (esta em primeiro lugar). Paguei, pus o material na mão esquerda. As coisas não estavam muito seguras, pois entre elas havia um frasco que, se rebolasse, se poderia partir. Chegado ao pé da scooter, joguei a mão ao bolso, à procura da chave. Como sempre, não a encontrei. Pensei “é sempre assim. Nunca acerto onde está a chave”. Passei a mercadoria para a mão direita. Joguei a mão esquerda ao bolso esquerdo, à procura da chave. Lá só encontrei o telemóvel, mais nada. Voltei, a muito custo e sempre com medo de que as coisas caíssem, a colocá-las na mão esquerda. Joguei a mão ao bolso. Encontrei a carteira. Meti a mão mais fundo e, finalmente, encontrei a chave “merda”, pensei. Abri a mala, coloquei as coisas, soltas, dentro da mala. Não tirei a máscara, mas esqueci-me de apertar o capacete. Na 125, o capacete voa da cabeça. Avaguei. Ouvi o capacete a rebolar pela estrada. Senti-o quase a chegar à scooter. Depois, fletiu para a berma. Parei, e vi o capacete num declive perto de uma moita a dois metros da berma. “Como ir buscá-lo?”. Pensei ir até à oficina do Rogério, sem capacete, e comprar um. Enchi-me de coragem. Agarrei-me aos ramos de uma árvore, cheios de rezina. Desci, cautelosamente, com medo de me despenhar na ribanceira. Consegui alcançar o capacete. O regresso a cima foi um pouco problemático, pelas dificuldades que senti em subir. Finalmente sentei-me na scooter, pu-la em marcha e segui até casa. Ao chegar, abri a mala. O frasco estava aberto e metade do conteúdo empava-me uma revista de vinhos. Tive de tirar a caixa, lavá-la e pôr a secar. E lá se foi metade do frasco de mostarda de Gijon, por causa de dez cêntimos que poupei…
Nota – Avagar é um verbo utilizado na minha zona com o significado de diminuir a velocidade, o mesmo que avagarar ou vagar. Não sei se o prefixo a resultou de alguma aglutinação resultante do uso ou por outro motivo qualquer. Quem pode ajudar?
escrito por Carlos M. E. Lopes
A MOSTARDA DE GIJON
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