Para não esquecer...

MEMÓRIAS SOLTAS * XIV. Maria Rocha, mulher intrépida

Santo Estêvão tem algumas pessoas cujas histórias merecem ser contadas. Ou melhor, alguns episódios. Não é propósito destas linhas traçar a biografia de quem quer que seja. Não só falta informação como o talento necessário à empresa. Por isso me limito a episódios que julgo relevantes.

Irmã do Florentino, a Maria Rocha era uma mulher destemida, de garra, corajosa. Relativamente baixa, com uma cara onde apontava um pequeno buço, a Maria Rocha era determinada. Lembro-me que, acompanhada de um sobrinho (filho do Florentino), se punha, a pé, a caminho de Lisboa: não sei quantos dias levava, nem se apanhava boleia. Eu ouvia: a Maria Rocha já foi para Lisboa.

Anos mais tarde, um outro sobrinho, com o mesmo nome do primeiro, foi visitá-la a Lisboa. Velha, com dificuldade em ver, era visitada pela Cruz Vermelha que lhe levava que comer e lhe limpava a casa. Ignoro em que condições vivia, mas julgo não terem sido as melhores. O sobrinho chegou e disse “está-me a conhecer?” “Não és o Zé Pedro?”. E era. Ainda conheceu o sobrinho passados muitos anos. “Dá-me lá um cigarro”. E cravou o cigarro ao sobrinho.

As funcionárias da Cruz Vermelha chegaram e ela vociferou “lá vêm estas putas”. Sempre combativa, a Maria Rocha.

Às tantas, o sobrinho achou por bem informar que o irmão dela, o Américo, tinha morrido. “olha o cabrão, e não me disse nada”.

Mulher de nervo, não suportava uma injustiça.

escrito por Carlos M. E. Lopes

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