Apanhei com o 25 de abril com 19 anos. Aquela quinta-feira começou com a aula de filosofia e o Prof. Louro a dizer, discretamente, como sempre, que algo se passava em Lisboa. Foi um desassossego que durou mais de um ano.
Nas ditas ciências sociais não há “se”. Por isso se diz que não são ciências. Eu também acho que não.
Olhando para hoje, sinto que o poder está nas mãos dos mesmos que teriam o poder sem qualquer “revolução”.
Acho o 25 de abril um golpe de estado que deu errado, a que se seguiu uma revolução que deu errada. Hoje, vivemos na “tranquilidade” de um sistema em que todos somos “felizes”.
No dia 24 de abril, tínhamos dez milhões de acomodados; no dia 25 de abril, dez milhões de antifascistas e no 1º de maio, dez milhões de revolucionários. No 4 de outubro de 1910, tínhamos 8 milhões (?) de monárquicos; no dia 5 de outubro, oito milhões de republicanos. No dia 27 de maio de 1926, oito milhões de republicanos; no dia 28, oito milhões de apoiantes da Lei e da Ordem.
Se consultarmos as atas das Câmaras Municipais, verificamos a forma prazenteira como se disponibilizam, os apoiantes do antigo regime, em servir o MFA.
Somos um país de invertebrados.
O PS e o PSD dividiram, entre si, o pessoal da União Nacional e da Ação Nacional Popular. E têm os tiques próprios desses tempos.
Ao 25 de abril, às lutas pelo poder, seguiu-se o 11 de março, data maldita para o “pessoal” do 24 de abril. Essa época, finda a 25 de novembro, é o período mais lindo da história de Portugal. Permitiu sonhar em voz alta, tudo era possível e tudo era sonhável. E tudo deu errado. O 25 de novembro constituiu o “termidor” da revolução portuguesa. O PREC deu-me sonhos de podermos ter um mundo melhor. Não deu certo.
A minha grande frustração foi a de o 25 de abril não ter desaguado num 1º de maio. Eu queria mudar o regime, mas queria mudar o sistema. Por isso, nunca, tal como diz o José Afonso em Por Trás Daquela Janela, usei cravo na lapela.
escrito Carlos M. E. Lopes
1 comentário(s). Ler/reagir:
Azar ter nascido em 6/1975, menos 5 meses e teria ainda vivido o mais lindo período da história Lusitana. Assim, tem sido só quase tristezas esta minha pátria, desde então. Ou teria sido melhor nascer em 1945? Ninguém saberá. H. Aires
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