Palestina livre!

MEMÓRIAS SOLTAS * XXVI. Greséus

Terra quase analfabeta, onde me sinto bem, sem qualquer interesse social, histórico, cultural ou outro, Santo Estêvão é a minha terra. Nasci lá, gosto da minha aldeia.

O português não é coisa que se cultive. A “engreja”, “greséus”, “fox” e tantos vocábulos que, só muito mais tarde, descobri que não coincidiam com o que a norma achava correta. Eu dizia “fê,bê,i”, até que um colega de Liceu, o Carlos Bastos, me disse, "diz-se 'Efe,bê,i'". E eu que adorava comprar livros do “fè, bê, i” no bar Jopinhal, com aquele tresandar a peixe frito, em Faro (Largo da Palmeira?).

Em Santo Estêvão, na Primavera, comiam-se “greséus”. Na minha casa, mais fina, “griséus”. Só quando fui estudar para Faro aprendi que aquilo se chamava ervilhas, nome consensualmente usado na capital do Algarve. Claro, senti-me atrasado, serrenho, inculto. E comecei a designar a leguminosa por ervilha. Não é preciso ver o Zelig do Woody Allen para saber que devemos encarnar quem nos rodeia.

Eu detestava os griséus, ervilhas, greséus. Acontece que um dia fui a França; chegados a Lacrouzette, no Tarn, Place Jean Nadal, fomos recebidos pela mulher do Irinée. Uma excelente cozinheira. Era noite e a fome era mais que muita. Vai daí vejo a senhora de roda do tacho. Eu já me babava, perante a hipótese de um pitéu francês de alto gabarito. Veio o tacho para a mesa e... que vejo eu? Ervilhas com salsichas frescas! Comi, claro, com o estômago a dar voltas. Pois... sabem o melhor? Passei a adorar ervilhas!

escrito por Carlos M. E. Lopes

0 comentário(s). Ler/reagir: