Jobs for the Neides
Proponho que a partir de agora, na expressão jobs for the boys, o termo boys seja substituído por Neides: a) patrioticamente substitui-se uma palavra inglesa por outra (quase) portuguesa; b) a semelhança entre a Neide-tão-competente-para-servir-bacalhau-como-para-coordenadora e os Neides-tão-competentes-para-a-empresa-e-o-lugar-X-como-para-qualquer-outro é enorme.Zé de Bragança, no Notícias Magazine de 19 de Fevereiro passado, pega na Neide, digo, na estória da Neide, e escreve o texto que a seguir, para a memória, se transcreve:
[verbete seguinte do Dizcionário]
1. A história é conhecida. Ela era (e continuará a ser) uma simpática e afável cidadã brasileira que trabalhava como empregada de mesa num restaurante especializado em bacalhau. Ele era (mas já não é) director de um importante departamento público. Há quem assegure que ele frequentava o restaurante pela qualidade do bacalhau, olimpicamente indiferente aos encantos dela. Outros asseveram que chegou a enjoar o badejo de tanto porfiar em ser servido por ela. O certo é que por entre muitas garfadas e outras tantas postas ele lhe percepcionou capacidades e competências ingloriamente desbaratadas entre bacalhaus à Zé do Pipo e à Narcisa. E zeloso no recrutamento dos melhores para o serviço do Estado propôs-lhe o lugar de «coordenadora do departamento de logística do depósito público de Vila Franca de Xira». Ela não recusou e o esplendor de tão digno acto administrativo viu-se espelhado nas infinitas páginas do Diário da República. A urgência no preenchimento do lugar obrigou o pressuroso dirigente à dispensa de concurso público, não fosse a eleita recuar e regressar à restauração.
Publicada a notícia com estrépito e escândalo em hebdomadário conhecido, ele foi instado pela comunicação social a justificar a nomeação. Estultamente predicou sobre habilitações académicas, experiência profissional no ramo da logística e outros supinos disparates. Horas depois, ela foi destituída e ele exonerado, mais o director-geral que, possivelmente na maior das inocências, ratificou o despacho de nomeação. O implacável ministro e o governo mereceram louvores pela sua atitude de rigor.
O Estado não compreende as coisas do coração. Nenhum mal faria aos já exauridos cofres públicos propiciarem umas gentilezas à cidadã brasileira em causa. Aliás, a presença dela no departamento de logística proporcionaria ao director nomeante motivação acrescida e acompanhamento permanente do depósito público em causa. Mas ele foi imprudente e descuidado. Não ao nomear a sua admirada amiga. Isso é gesto costumeiro e prática consolidada. Mas na justificação pública do acto. Invocar competência, habilitações e experiência é impróprio, inadequado e perigoso. Seria uma excepção. E sabe-se que são crescentemente raras as excepções. Deveria ter admitido publicamente que o acto decorria do enlevo aceso e do amor ardente que nutria por ela. Neste país de melífluos ninguém teria a coragem de lhe exigir a cabeça.
Estranha-se o silêncio das vigilantes organizações contra o racismo e a xenofobia. Não se interrogaram sobre o número de senhoras e senhores portugueses que coordenam departamentos públicos de logística por idênticos e simétricos critérios de proximidade (de muita proximidade, de muita proximidade mesmo) com os hierarcas respectivos. Todos intuímos que são muitos. Porquê, então, este alarido? Se a coordenadora proviesse de uma sapataria, se chamasse Idalina e fosse natural de Aljustrel, todos achariam natural a nomeação. Mas, do Senhor Bacalhau, com o nome de Neide e proveniente do Ceará... Conselho que se deixa a quem interessar: se quiserem nomear uma amiga próxima para coordenadora do departamento de logística do depósito público de Vila Franca de Xira escolham uma nacional. Esqueçam as brasileiras e nunca, mesmo nunca, lhes ocorra as russas.
escrito por ai.valhamedeus [com um abraço a JCosta, que me fez chegar o texto de Zé Bragança]
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