Para não esquecer...

POESIA ERÓTICA E SATÍRICA

Poesia erótica Há muitos anos (cerca de 40) tomei conhecimento do Vermelho e Negro de Stendhal e da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (com selecção, prefácio e notas de Natália Correia), proibida pela censura. Foi na casa do meu amigo Diogo, na Rua do Alportel em Faro.

Depois, perdi o contacto com a Antologia, tendo perguntado um dia a David Mourão-Ferreira

(um ser extraordinário que tive oportunidade de conhecer)

se tinha algum exemplar. Nessa altura ele disse-me que só tinha o dele. Fiquei frustrado. Mas eis que ressurge em 1999 o referido livro

(como disse Mourão–Ferreira: ”finalmente! Até que enfim!).
Reproduzo o primeiro dos poemas de Martim Soares, do séc. XIII. Quem pensa que os costumes se degradaram agora, com oito séculos de diferença, pode verificar que os telemóveis não descobriram nada (antes banalizaram uma prática ancestral: o amor extraconjugal).
JOGUETE DIREITO
(ESPÉCIE DE ESCÁRNIO)

Esta outra cantiga fez a Pero Rodrigues Grongelete de sua mulher que havia prez que lhe fazia torto [1]

Pero Rodrigues, da vossa mulher,
Não acrediteis no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
Enquanto gazava, pelo que dizia,
Muito me mostrava que era vossa amiga.

Se vos deu o céu mulher tão leal,
Que vos não agaste qualquer picardia,
Pois mente quem dela vos for dizer mal.
Sabei que lhe ouvi jurar outro dia
Que vos estimava mais do que ninguém;
E para mostrar quanto vos quer bem,
Fodendo comigo assim me dizia.


(C.V. 976, C.B.N. 1319, lição de Rodrigues Lapa, Cantigas d´Escarnho e de Mal Dizer, adaptação de N.C.)

[1] Que era acusada de o atraiçoar.
escrito por Carlos M. E. Lopes

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martim de gouveia e sousa disse...

é um trabalho modelar com a exclusão (desconhecimento?) incompreensível de Judith Teixeira.