Para não esquecer...

SEMANA DOS 9 DIAS

Caloiros em posiçãoAcabou a semana dos 9 dias. Decorreu de 4 a 13 de Maio. Deu pelo nome de “semana académica”. Não foi uma coisa nem outra, claro.

A expressão “semana dos 9 dias” é o equivalente vulgar do erudito ad calendas graecas. Assim como os gregos não tinham calendas, as semanas também não tinham 9 dias, pelo que remeter algo para as calendas gregas ou para a semana dos 9 dias vinha a dar no mesmo: para nunca jamais. A fórmula, porém, caducou. Os senhores estudantes (oh, sim, esses jovens irreverentes!), com a “criatividade” que é seu timbre, encarregaram-se de remeter para o caixote das velharias tanto a sabedoria clássica como a sabedoria popular. E a “semana académica” passou a comportar 9 dias – ou melhor, para sermos exactos, 9 noites.

Pois ninguém dorme nas cercanias desse admirável recinto que dá pelo nome de “País das Maravilhas”. As actividades “académicas” desenrolam-se, estoicamente, aplicadamente, durante 9 consecutivas noites. Em que consistem? Tirante alguma involuntária excepção, em “concertos” de música estúpida e estupidificante. Mas atenção: os organizadores promoveram concomitantemente “acções de sensibilização” contra os excessos de álcool e de drogas – como se aquela música não promovesse precisamente um e outras… Este ano as bandas que se apresentaram foram todas “nacionais” (o nacionalismo é sempre tão enternecedor!...). O orçamento, revelado em conferência de imprensa que contou com a presença e a bênção autárquica (há que apoiar a juventude, eles são o futuro!), montou a 650 mil euros – uma bagatela! E ouviram-se indignados protestos contra a Região de Turismo do Algarve, por ter recusado subsidiar tão flamante “cartaz turístico”.

Segunda-feira, 15 de Maio, olheirentos e estafados após 9 dias de intensas actividades académicas, os senhores estudantes voltarão às aulas. Voltarão? É duvidoso. Como as aulas acabam daqui a 15 dias, estes que se seguem são dedicados a testes; logo, não há tempo para aulas – é preciso “estudar”. Pelo que os senhores estudantes, nesta derradeira quinzena académica, desertam as aulas.

Aliás, cumpre atentar por alto no calendário escolar. As aulas, em regra, começam tarde, Outubro entrado. E o primeiro período é sobretudo preenchido com a recepção aos caloiros e seu ponto alto, que consiste em embebedar os perus. Meados de Dezembro, férias de Natal. Reatadas em Janeiro, as aulas interrompem-se duas semanas depois – é o fim do primeiro semestre; na segunda quinzena de Janeiro e no mês de Fevereiro todo não há aulas, porque há exames e estes devem ser espaçados, para não sobrecarregar cérebros empapados de árdua ciência. Começa o segundo semestre. Começa, mas logo entra o Carnaval – e nova interrupção. Recomeçam as aulas – mas eis aí a santa Páscoa, merecido descanso. No regresso, temos a “semana académica” à porta… Eis o ciclo. Nos intervalos, admita-se, os senhores estudantes são capazes de ter umas aulinhas.

São capazes, não é certo.

escrito por e.o.santíssimosacramento

2 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

finalmente vi uma descriçao real do ano "academico"! e perante isto, apenas resta pedir aos pais dos estudantes compreensao para com possiveis "fracassos"!!é dificil com um calendario tao propicio ao descanso ter melhor rendimento

Anónimo disse...

Dos desmandos perpetrados durante essa palhaçada a que pomposa e indevidamente se apelidou de "semana académica"(académica porquê?)dão-me conta as mais desvairadas vozes. Não sei se tudo o que me dizem, por contraditório, se passou assim, sequer se se passou. O que eu sei é que nesses nove dias não pude desfrutar de um sono reparador e por de mais merecido; o vidro da porta de entrada do prédio onde habito sofreu tratos de polé e foi à vida, estilhaçando-se com estrondo e sem glória. Ao que parece devido a um assalto a dois jovens mesmo ali defronte que procuraram abrigo tocando furiosamente à campainha em busca de auxílio que, felizmente, lhe não foi negado,não obstante a hora tardia.
Um amigo meu asseverou que se fosse Reitor acabaria com esta semana "alargada" que reputa de vergonhosa. Hélas, se o fizesse seria literalmente linchado, pois acabaria com toda a panóplia comercial que gira à volta destas e de outras funções e folestrias. E que dizer dos gostos musicais dos jovens académicos? "O meu ídolo é o Quim Barreiros!", dizia ufano um universitário da cidade universitária por excelência. Convenhamos que há ídolos piores, pois este até já foi(pasme-se) à Aula Magna!
Pois é! Deixámos a "arraia miúda"(em termos de gosto e de cultura, no sentido primeiro do termo)tomar conta da sociedade e agora já não há nada a fazer.
Contudo, ainda íamos a tempo de minimizar os estragos!
But,who cares?