Comemoram-se, no ano corrente, 30 anos de “poder local democrático”. Pelo menos no que ao Algarve respeita, a atribuição aos Municípios das mais latas competências na área do urbanismo e ordenamento do território teve consequências desastrosas – melhor seria dizer: trágicas. Nesta trintena de anos o Algarve foi sistematicamente destruído; ocorreu um genocídio cultural. O agente, o responsável, o alegre autor do magno delito: esse ufano "poder local democrático" que hoje celebra três decénios de alegres malfeitorias.
Quem se apoderou dos Municípios algarvios foi uma pequena burguesia tão voraz quanto ignara. Arguta, viu chegada a sua hora e atirou-se avidamente à carniça. Movida por uma insaciável cupiditas aedificandi, devassou, sobretudo o litoral, até ao ínfimo rincão. Construir, depressa e em força, tornou-se a palavra de ordem. E construir sem plano nem estética nem respeito – construir com a exclusiva finalidade do lucro rápido e chorudo. A nova classe da governança local – tudo “homens bons”, evidentemente – enriqueceu bem e depressa, de braço dado com a legião dos patos-bravos indígenas ou, na maioria, migrados para a região.
O resultado está à vista. À vista não só em Portimão, em Armação de Pêra, em Quarteira, em Monte Gordo… E o pior é que não tem remédio. A magnífica obra do “poder local democrático”, porque é de betão, resistirá, permanecerá, perdurará. Só para ilustrar os casos apontados: Monte Gordo, que até ao meado dos anos 80 era uma estância turística única, em menos de um rufo transformou-se num aglomerado incaracterístico; Quarteira, está sabido, alberga o maior supermercado algarvio – o da droga, instalado nas suas urbanizações selvagens; Armação de Pêra é uma câmara de horrores, por sua vez elevada à mais alta potência na outrora tão formosa Portimão… Apenas outro exemplo: a Fuzeta, dita “branca noiva do mar”, hoje viúva dele, sempre foi aldeia piscatória, de casas térreas com açoteias, vá lá aqui e ali um piso superior, tudo numa harmonia singular; agora é o pátio das traseiras dos mamarrachos implantados na marginal e que sequestraram o povoado. Obra do “poder local democrático”, que, como é bem de ver, não está satisfeito e aposta prossegui-la afincadamente.
Existe solução? Para o que já foi destruído, não. Para o pouco que falta destruir, só uma: retirar aos Municípios as competências na área urbanística e do ordenamento do território. Retirá-las, já!
escrito por e.o.santíssimosacramento
O PODER LOCAL
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