No Suplemento da revista mensal “A Página da Educação” do passado mês de Março, vem um artigo intitulado: FACE DA TERRA, FACE DO SER HUMANO, da autoria de Vítor Oliveira Jorge, Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o qual me chamou a atenção e do qual tomei a liberdade de registar algumas passagens que reputo de grande pertinência. E, se quiserem, “impertinência”. Mas uma impertinência criativa e crítica. Ou vice-versa.
Passo a citar:
“… A linguagem da psicanálise e das ciências psi está cheia de economia: é o investimento do desejo, é a economia libidinal, é a gestão do tempo da sessão, etc. …”.E mais adiante:
“… Todos nós deveríamos sentir a obrigação de ser filósofos, isto é, de incorporar os conceitos básicos que, na perspectiva de cada um, lhe permitiriam escapar à tirania das evidências, tanto mais tirânica quanto naturalizada, e portanto não problematizada…”E ainda:
“ … Há uma ética anti-hedonista que temos de violentamente contrapor à ética do fique bem desta sociedade. …”E continua:
“ … A ontologia ocidental é dualista: separa desde os gregos, matéria e espírito, corpo e alma, biologia e cultura, forma e conteúdo, aparência e realidade…”, “…realismo espontâneo, que é o que reina na nossa experiência diária; o que se pensa coincide, ponto por ponto, com a realidade. É a falta de consciência de ordem simbólica em que estamos inscritos. …”Mais adiante ele refere a linha filosófica fenomenológica,
“cuja motivação principal é restituir, se possível, a experiência humana na sua totalidade vivida, imersa no mundo, e não apenas sobreposta a ele, ou actuando sobre ele….uma espécie de recuperação de algo primordial, pré-linguístico. Algo que lembra a poesia, o seu radical paradoxo: dizer o indizível, dizer o silêncio que precisamente o dizer perturba. …”A terminar, Vítor Oliveira Jorge diz:
“…Todo o poder perdurável foi sempre feito de tolerância para com as diferenças, subsumidas no seu poder maior. O neo-liberalismo contemporâneo e a libertação de costumes são sintoma disso: estamos todos bem controlados para nos poderem dar liberdade (autonomia individual) como motivação e sonho. A modernidade instala uma série de paradoxos de difícil solução…”, “… a arqueologia e a psicanálise (não na vertente americana de vulgarização, tornada prática terapêutica consumista de tipo ginásio) de algum modo nobilitaram, trazendo à visibilidade, muitas realidades que estavam recalcadas, reprimidas, no saber e na prática…”; “…ambas visam revelar, trazer à superfície, algo de invisível -– na terra e no corpo, no ambiente e no ser humano. Algo que eventualmente poderia ser subversivo, isto é, produtor de novidade num sentido diferente da moral mais conservadora e da forma mais oportunista de desvalorização de bens tão importantes como o do meio ecológico e da felicidade dos indivíduos (qualidade de vida, como hoje se diz).”P. S. Só hoje me foi possível recolher estas nótulas, tentando partilhar com os bloguistas do Aijesus.
escrito por Gabriela Correia, Faro
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