Para não esquecer...

SÓCRATES NO CRIME

Afinal, o homem que estava pronto para mais uma ou duas manchetes do Público, se este insistisse em enveredar pelo percurso arqueológico da sua vidinha, não precisou de esperar sentado e, quando me interrogava sobre a efectiva possibilidade da classificação do Património da Humanidade se estender, por montes e vales

[com as últimas revelações],
até à zona da Guarda, com verdadeiros motivos de interesse arquitectónico espalhados, no seguimento das gravuras de Foz Côa, agora por Rapoula, Covadoude, Porto da Carne
[com várias estações],
Faia e Misarela, eis que um jornal, ainda mais perverso que a "sarjeta" em que o Público já se transformara, dedica ao primeiro, manchete de primeira página.

Para minha surpresa
[esperava que a matéria fosse arte nova, com leves toques da escola francesa],
Sócrates no Crime dei por mim a contemplar, no jornal O Crime
[que nome!],
assunto de pendor económico, levemente financeiro e que, como espero, será prontamente desmentido, de modo a repor a honra do primeiro, aguardando-se, a todo o momento, o encerramento de O Crime
[sim, sei o que estão a pensar, pela ASAE].
A situação é tanto mais grave quando todos sabemos que os 4 dias de Carnaval
[anunciados, sem comentários políticos, pelo pr],
já não abrangem a manchete, que cai direitinha no período da Quaresma, que há-de levar à Paixão. Se fosse possível encurtar o tempo Pascal, imolava-se já o cordeiro e poupava-se bastante em ansiedade e suspense. Se o
[nosso, salvo seja]
primeiro tivesse lido, com atenção, o "Sermão da Sexagésima" do Padre A. Vieira
[de que aqui lhe deixamos um naco:

Se os ouvintes ouvem uma coisa e vêem outra, como se hão-de converter? Jacob punha as varas manchadas diante das ovelhas quando concebiam, e daqui procedia que os cordeiros nasciam malhados. Se quando os ouvintes percebem os nossos conceitos, têm diante dos olhos as nossas manchas, como hão-de conceber virtudes? Se a minha vida é apologia contra a minha doutrina, se as minhas palavras vão já refutadas nas minhas obras, se uma cousa é o semeador e outra o que semeia, como se há-de fazer fruto?]
poupava-nos -a todos-
(os que gostam e os que não gostam dele)
esta expiação decadente da Pátria.

Ora pro nobis!

escrito por Jerónimo Costa

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Excelente post, Jerónimo! (E obrigado pelo mail)
Abraço,
ALM