Para não esquecer...

SEXTAS À NOITE 2. a manif dos profs

Anteontem foi 6ª Feira!

Uma sexta-feira molhada, fria, no Sul do País, e gélida, nevada, na cidade mais alta de Portugal. Cidade que me viu nascer há um ror de anos. Pois, é verdade. Quando eu era aluna, uma “adolescente inconsciente”, nevava para caramba. Chegávamos a estar 8 dias sem ter aulas! Uma festa! Ficávamos bloqueados e isolados, com estradas manhosas cortadas do resto da “civilização”. Neve da altura de um autocarro, pelo menos. Dependendo do sítio. Eram uns 3 nevões, quando não mais, por ano. Agora já não neva como nevava, diz quem lá vive, e como se viu em reportagem da RTP.

Belos tempos! Tempos frios e brancos, mas necessários ao turismo e à agricultura, pois já lá dizia, e não diz, visto que até a neve já não é o que era, o ditado: Ano de nevão, ano de pão.

Mas rapidamente as novas tecnologias de antanho, o limpa-neve, eram postas ao serviço da comunidade e lá se iam as férias por água abaixo. Lembro-me bem de que, durante a noite, alguns malandretes iam colocar paus, havia quem dissesse que de fósforo, na fechadura da porta principal para evitar a abertura da dita e não haver aulas logo às 8.30 de Segunda-feira. O expediente resultou umas quantas vezes, se a memória me não falha. Mas, como não há bem que sempre dure, lá vinha alguém com um maçarico derreter a neve e o gelo acumulados durante o fim-de-semana. Enfim, outros tempos! Outras guerras!

Não creio que a Sul isso tenha acontecido, uma vez que não neva. Nevou bastante no ano de 55 do século passado, e muito recentemente, na Serra de Monchique. Há 3, 4 anos, se a minha memória ainda é o que era.

Anteontem, 6ª Feira, 28 de Novembro, não nevou. Mas choveu muito à hora da manif dos profs. Parecia que até os céus estavam contra nós. Porém, não iria ser a chuva, nem que fosse de picaretas, que meteria medo aos que compareceram no Jardim Manuel Bívar. Era um mar de água aos pés e um mar de guarda-chuvas por cima das cabeças. Não tenho filme documental, como aconteceu no Centro, mas a luta era a mesma.

Assim alguém ouvisse as nossas razões no meio do barulho da chuva!...

escrito por Gabriela Correia, Faro

5 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Bons velhos tempos esses da Guarda.
O lindo texto fez-me lembrar um outro escritor/poeta (Augusto Gil)que em 1909 nos oferecia esta encantadora poesis


BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Luar de Janeiro

Transcrevo para homenagear tododo sos docentes que na sexta-feira desafiaram a chuva e o frio para mostrarem a tristeza que lhes vai no coração pelo destempero de uma minitra teimosa, cega e surda à realidade do ensino e sobretudo da educação lusitana

jcosta disse...

Faz falta, por aqui, um daqueles cartazes, graficamente irrepreensíveis, sobre a jornada de luta do próximo dia três. Faz, não faz?
E um texto!?
Antes que o Filipe do Paulo (F do P - ele há coisas no nome da gente!) da Pró-Ordem convença todos os professores que está tudo bem ou para lá se caminha. Gosto do F do P, porque sim e por ser o primeiro a encarar o "frete" de frente. F do P!

Anónimo disse...

A estratégia do ME e da Ministra agora é outra. Como verificou que se meteu com uma classe mais inteligente e mais capaz do que imaginava, para levar a dela àvante, dela e principalmente do Governo a meu ver, deixou de atacar os professores e passou a atacar os Sindicatos.
Já é uma questão entre partidos, PS e PSD sobretudo e quem se lixa, como sempre, é o mexilhão.
Que interessa que o "modelo" de avaliação esteja mais roto do que a capa dos estudantes de Coimbra "in illo tempore"?
Não mexam no meu modelo!
Será o caos no país, o último suspiro de um país adiado, como clama MST.
Gabriela

Anónimo disse...

A ministra é remendona.
Quer remendar um tecido velho, estragado e de fioco com remendo novo.
Se ela nada entende de ensino como poderia entender de política educativa?

Carla Rêgo disse...

É bom saber que os Professores continuam Unidos nesta luta!! Unidos como nunca estiveram antes!!Por uma Escola Pública digna desse nome, por uma Classe que merece o respeito de quem a tutela... por um Ensino de Qualidade... onde os Professores tenham tempo para ser verdadeiramente Professores!!

Enquanto ainda houver Paixão pela Educação...
A Luta continuará!!!

Bem hajas Gabriela!