O director do diário do governo do norte
[que é como quem diz o JN]escreve hoje:
Os professores de Paredes de Coura não queriam que as crianças a quem dão aulas fizessem um desfile de Carnaval pelas ruas da terra. A marcha não era essencial à aprendizagem e os professores não dispunham de tempo, pois estavam assoberbados com tarefas relacionadas com a avaliação.
Percebe-se que os professores não podem pensar exactamente isto: um desfile de Carnaval não é uma aula e nele pouco se aprenderá. Mas as actividades lúdicas fazem - devem fazer - parte da escola e ajudam à integração dos jovens. Os professores sabem-no. O que se lamenta é que o braço-de-ferro que mantêm com o Governo os tenha levado a pôr-se de fora, prejudicando as crianças, roubando-lhes um Carnaval com que certamente andavam a a sonhar e tornando-as parte de um conflito em que não têm sequer idade para dar opinião. Mas a DREN, cuja actuação de outras vezes tem merecido criticas, achou que não devia ceder e os professores foram obrigados a acompanhar os alunos. Fizeram-no acorrentados, vestidos de negro, amordaçados, alguns até com sacos de plástico pretos enfiados na cabeça. Ninguém terá olhado para o corso infantil, pois o desfile dos professores naqueles preparos abafava todos os olhares. Iam assim, explicaram, para gritarem a sua indignação por terem sido obrigados a participar, para mostrar como a democracia e a liberdade estão em perigo.
Vamos partir do princípio que este incidente foi um acidente. É que, se o que dizem é sentido e não coisa de Carnaval, então há fortes razões para pensarmos que, com professores destes, a democracia pode estar em perigo e o ensino decididamente perdido.
Com directores destes, o jornalismo não pode estar em perigo: já está. O director José Leite ou é ignorante ou se faz -- ou as duas coisas. Na verdade, a questão do tempo é um ponto de fractura entre o ministério da educação e os professores. E não foram os professores que a iniciaram; foi o ministério, que
(só para dar um exemplo)
foi ao ponto de contabilizar, na lógica das contas de merceeiro, a diferença de 10 minutos na passagem das aulas de 50 minutos para os blocos de 90 minutos. O mesmo ministério que, ao fazer contas, tem ignorado o tempo, não contabilizado, que os professores gastam para preparar e executar actividades extra, como são as visitas de estudo e desfiles carnavalescos. O que o agrupamento em questão decidiu foi
Os pais já gritaram aqui d'el rei e querem "garantir a realização de outras actividades canceladas, como as visitas de estudo de alunos até ao 8º ano e as idas à praia com as crianças da pré-primária"; provavelmente "esquecem-se" de que tudo isso requer tempo -- mas tempo, dá-o Deus de borlaDuas notas finais:
escrito por ai.valhamedeus [ilustração rapinada de Protesto Gráfico]
"suspender algumas das 164 iniciativas previstas no plano de actividades devido à falta de tempo" (negrito meu),mas apenas "aquelas que não foram consideradas indispensáveis ao processo de aprendizagem das crianças".
Os pais já gritaram aqui d'el rei e querem "garantir a realização de outras actividades canceladas, como as visitas de estudo de alunos até ao 8º ano e as idas à praia com as crianças da pré-primária"; provavelmente "esquecem-se" de que tudo isso requer tempo -- mas tempo, dá-o Deus de borla
[pelo menos nalgumas profissões, dão-no os profissionais. E talvez o director do JN se não importe que seja o caso dos jornalistas do "seu" jornal].
- O sr. director reconhece que um desfile de Carnaval não é uma aula e nele pouco se aprenderá. É uma das "actividades lúdicas" de que os professores não devem "pôr-se de fora, prejudicando as crianças". Se o fizerem, estará o "ensino irremediavelmente perdido". Ou seja, é este o ensino segundo o senhor director e segundo outros senhores directores: actividades lúdicas...
- Há um aspecto de que o senhor director se esqueceu: foi perguntar-se que autoridade tem a senhora directora da dren, independentemente de ter ou não razão, de impor estas coisas. Abuso de poder, é o que é.
1 comentário(s). Ler/reagir:
Esse directorzeco quem é? ninguém o conhece... escreve a troco de quem o manda e lhe paga para sobreviver, e digo escreve porque diria até que nem foi ele que escreveu mas sim ELA, não fosse o caso de ELA não saber escrever... e nesse caso o artigo corria o risco de nem poder ser lido. Por isso digo encomendou-o e ele escreveu, enfim!!!
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