Gostaria de dizer que hoje é dia de festa e que as nossas almas cantam. Na verdade não é assim. É dia de recordações para mim. Mas para quem mais?
Recordo a caloira tímida a assistir à inauguração do novo edifício “das Matemáticas” em Coimbra, na longínqua Primavera, faz hoje precisamente 40 anos, de 69. Data memorável! Creio que ainda haverá uma sala nessa Faculdade a atestar o acontecimento – sala 17 de Abril.
Recordo o dirigente da Associação de Estudantes da Universidade de Coimbra, Alberto Martins. Sim, esse ….
Recordo o seu pedido do uso da palavra em tão solene acto. Creio que foi indeferido. Ou terá ele sido interrompido no uso da palavra devido ao conteúdo do discurso? A minha memória aqui está um pouco apagada. Será propositadamente? Será que essa entidade reguladora dos momentos dignos, ou indignos, de serem relembrados tem razão e faz a selecção natural?
Não sei. Nem tenho como saber.
O que sei é que os acontecimentos se precipitaram, não houve mais aulas, nem serenatas na Sé Velha, pese embora, ou por isso mesmo, já se cantassem canções de Manuel Alegre em tom de fado de Coimbra. Pelo Berna. E que faziam as delícias da rapaziada: dos politicamente atentos, e também dos outros. E a nossa bela Associação, ponto de encontro dos “subversivos” e dos menos sub, porém eversivos à sua maneira, foi encerrada sem apelo nem agravo, e sem fim à vista, acabando por ser transformada em Refeitório da malta esfomeada de batatas fritas e bife com ovo a cavalo! E toma lá que já almoçaste!
Mas vingámo-nos! E foi um fartote de concertos de música de intervenção, todos, as mais das vezes, de rabo no chão, a escutar aquela canção do “Venham mais Cinco”. De uma assentada vinham muitos mais, e mal assentados. Mas quem se ralava. Não sei se havia perigo. Eu era uma caloira inconsciente!
Mas era de certeza mais perigoso do que em 74, depois de Abril, para os que andavam a ocupar casas, movidos por causas trocadas. Digo eu! Referindo-me, bem entendido, ao perigo e às causas trocadas. O mais que lhes poderia acontecer era levarem uma arrochada de um dono mais cioso dos seus haveres. Ou não? Enfim, ardores da juventude que, aos 40, é absorvida por esta engrenagem à qual chamamos vida. É caso para dizer: é a vida!
escrito por Gabriela Correia, Faro
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