Para não esquecer...

POIS!... [estórias exemplares] -31- o sexo fraco (3)

Ontem fui às compras. Não era Sábado, mas mesmo assim fui às compras. Apeteceu-me; e porque as férias assim o permitem. Apeteceu-me quebrar a rotina!

E a rotina cobrou-me!

Em vez das habituais figuras femininas, já minhas e vossas conhecidas, ajoujadas de sacos e apressadas pela hora adiantada, bastante atrasadas para as tarefas da confecção dos almoços de filhos e maridos esfomeados, deparei com um aparato de polícias carrancudos, fitas entre grades (chamemos-lhes assim, à falta de melhor vocábulo do dicionário), trânsito espartilhado e bastantes mirones/figurantes e participantes, afinal. Pensei tratar-se de alguma acção policial com hora marcada, pois divisei as câmaras de televisão. Da TVI, por sinal.

Pensei: ameaça de bomba? Roubo de banco? Assalto à mão armada? Incêndio?

Não, tratava-se tão-só da visita do Sr. Primeiro Ministro, expressamente ali chegado para a inauguração da Loja do Cidadão, sita no novo edifício do Mercado Municipal.

Como gosto pouco de ajuntamentos, e ainda menos de ajuntamentos de fatos Giorgio Armani, quebrei novamente a rotina, prescindindo da habitual mesa ao sol tímido de começo de Abril. Também quase não havia lugares, dado que estes tinham sido ocupados pelos curiosos, quiçá amantes de fatos de fino corte.

Ainda encontrei conhecidas matando dois coelhos com uma só cajadada, e que me informaram por entre a fruta e os legumes de que “ele até é um homem muito bonito e muito simpático. E foi muito bem recebido. Não houve lugar a apupos”. Pois!

Depois de dois dedos de conversa sobre assuntos menos sensíveis, despedi-me e redesenhei a minha rota dirigindo-me para o Pátio das Letras onde apanhei sol na mesma e pude ler em relativa paz os poemas de Ruy Belo. E digo relativa, uma vez que este pátio já é frequentado por muitos, novos e menos novos: a testemunhá-lo um jovem, aparecido momentos depois, saudando outros que lá se encontravam à maneira dos tribunos do século vinte e um, numa troça saudável sobre tão ilustre visita.

escrito por Gabriela Correia, Faro

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

«[...]matando dois coelhos com uma só cajadada».

Tss... tss... aumentar o maltrato animal só para poupar... cajadadas.
Onde nos está a levar a crise...

Ainda se fossem políticos,
mas os coelhos, senhora,
por que lhes dás tanta dor;
por que os matas assim?