Para não esquecer...

POIS!... [estórias exemplares] -32- 13 euros por dia

Sentou-se, depois de pedir licença à mulher que já estava à mesa a acabar o bacalhau à Gomes de Sá.

-- Olhe que eu gosto muito do respeitinho -- esclareceu, antes que houvesse ideias. E a conversa derivou para uma lista de doenças sem fim, alimentada de ambos os lados contrários da mesa.

Já a mulher bebia o chá, depois de ter recusado a sugestão de sobremesa, quando ele abriu a boca a um saco plástico:

-- Tenho aqui mais de 100 euros, só de bilhetes de carreira. Vossemecê apanha a carreira ao pé de casa? Eu tenho que andar 3 quilómetros a pé até à paragem.

E informou que estava de baixa.

-- O médico queria que eu trabalhasse, mas eu não posso de maneira nenhuma. -- Mostrou a mão esquerda inchada. -- Eu perguntei-lhe: "o senhor doutor conseguia alevantar caixas cheias de garrafas de azeite cheias com uma mão assim?"

A mulher abanou repetida e solidariamente a cabeça, num movimento acompanhado pelo lamento de valha-nos Nosso Senhor!

Ele olhou-me, quando pedi um café curto. Mas foi à mulher que confidenciou:

-- Sabe quanto estou a ganhar por dia assim de baixa? Treuze euros. Ganho treuze euros por dia.

Lá pelo meio das confidências, fiquei a saber que, quando vinha ao médico, passava naquela tasca para comer uma bifana e beber um copo. Pagava 4 euros, acrescentou. Hoje não comeu nada: cumprimentou e saiu, justificando-se com a hora da consulta:

-- O senhor doutor já lá deve 'star...

[Remake deste texto: POIS!... [estórias exemplares] -33- 372 euros por dia]
escrito por ai.valhamedeus

1 comentário(s). Ler/reagir:

Bea disse...

Também pode calçar Prada!