Para não esquecer...

QUESTÕES DE MORAL

Há dias que, apesar de soturnos devido ao persistente manto de nuvens, se revelam alegres e profícuos por via de pormenores apenas significativos para alguns.

Vem, a este propósito, referir o programa de Joel Costa, na Antena 2, intitulado precisamente “Questões de Moral”, e ao qual já aqui fiz referência. Ora, o seu último programa foi sobre os dois mais famosos castratti: Farinelli e Cafarello, que viveram e cantaram nas cortes dos reis Luís XIV e XV. E não só! Para os bispos e outros dignitários da igreja Católica, Apostólica, Romana.

Como se sabe, estes castratti, cujo dom infelizmente os haveria de trair, eram castrados quando a sua voz começava a engrossar e destarte ficavam com voz de soprano para comprazimento do poder, o secular e o outro, uma vez que as mulheres não podiam pisar o palco. Era pecado. As poucas que ousavam tal “infâmia” eram consideradas nada menos que rameiras.

No passado Sábado um padre/presbítero da Igreja do Porto apresentou, no Pátio de Letras em Faro, o seu último livro intitulado “Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação”/ Para um Mundo de pessoas e de Povos mais humanos. Falou de tantas coisas sobre o nosso mundo actual que seria impossível delas aqui dar conta; mas uma frase que me apraz registar foi a seguinte: a fertilidade está em risco em Portugal “não por causa dos homossexuais, mas em virtude do comportamento dos homens que preferem relações virtuais através da Internet, em vez de tratarem as mulheres com carinho e proverem às suas necessidades de afecto, e outras. Por ser mais fácil e não envolver “commitment”, digo eu. E disse ele também. Se lerem o último livro de Luísa Costa Gomes verão esse tema
(o mundo dos afectos virtuais)
nele tratado; tal como o eduquês dos objectivos, estratégias e demais folestrias educacionais. Ou não fosse a autora também professora de Filosofia do Ensino Secundário!

Logo na dedicatória do livro deste presbítero que foi preso pela PIDE por pelo menos duas vezes
(pois é, era o padre de Macieira de Lixa na altura da Guerra Colonial)
lemos o seguinte:
A
Todos os Bispos da Igreja de Jesus
Em comunhão ou não com o Bispo de Roma
O qual, por sua vez, para poder ser o primeiro,
Sempre há-de sentir-se entre iguais
E comportar-se como o último dos últimos
(cf. Marcos 9, 35)

E prossegue, com frases lapidares que encimam os capítulos/versículos do seu livro como estas: A Igreja celebra Francisco de Assis, mas prefere seguir o exemplo do pai; Meus irmãos Bispos: Mudai de Fé e de Deus!

Maria de Lurdes PintasilgoÀs 21h desse mesmo dia, passou na RTP2, um documentário sobre Maria de Lurdes Pintasilgo, com testemunhos de personalidades que com ela privaram, com testemunhos da própria, logo na 1ª pessoa, que comentou uma afirmação do entrevistador Joaquim Letria: apesar de católica praticante e pertencente a uma instituição católica actuante na sociedade portuguesa, foi, no entanto, da igreja católica que teve das críticas mais duras aquando do seu governo dos 100 dias! Com o ar sorridente e de consciência tranquila que a caracterizava ela ironizou contando uma pequena história: na homília de um determinado clérigo da altura este apelava aos crentes para rezarem muito e fervorosamente a fim de o Senhor os ajudar a eliminar o mal que nos afligia e governava. Ela, Maria de Lurdes, senhora de vasta cultura e inteligência rara ainda pensou que “aquilo fosse uma metáfora! Mas não, o mal que nos governava era eu!” e riu com bonomia. Como só um espírito livre e superior o consegue fazer.

P.S. Os espíritos farisaicos que lerem estas linhas preparem a fogueira! Ui, que medo!

escrito por Gabriela Correia, Faro

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

A ideia que a fertilidade está em risco em Portugal "em virtude do do comportamento dos homens que preferem relações virtuais através da Internet" é tão cretina quanto esta ser por " causa dos homossexuais". Os filhos não devem ser fruto do acaso e portanto de uma ou outra relação hetero. A história do prazer e afectividade dos homens e mulheres têm evoluido e se são virtuais ou corpo a corpo, hetero, mono, ou homo, sendo provenientes da vontade própria de cada um é lá com eles e elas e em nada interferem com fertilidade e nascimento de crianças.