Para não esquecer...

SER CIDADÃO DO MUNDO

Escola Secundária Emídio Navarro de ViseuComo aqui foi anunciado, começou hoje uma série de actividades sob o "lema" Ser Cidadão do Mundo. À sessão de abertura falhou, talvez por... erro de protocolo, o Governador Civil [que nem representante enviou e, segundo me disseram, nem comunicou previamente a sua ausência] e o Presidente mandou o vereador do Desporto e da Juventude representá-lo. Pergunto-me se tais ausências se terão devido à presença de Fernando Nobre, presidente da AMI, candidato anunciado à Presidência da República e principal orador da sessão da amanhã
[numa conferência/diálogo com os alunos sobre o papel da AMI na defesa e promoção dos direitos humanos].
Para evitar misturas...

Na sessão de abertura o Presidente do Conselho Geral, Jerónimo Costa, pediu a palavra para dizer o seguinte:
Exmo. Sr. Director
Exmo. Sr. Representante do Presidente da Câmara M. de Viseu
Exmos. Srs. Presidentes da Associação de País, Associação de Estudantes e dos Antigos Alunos
Caros Coordenadores das áreas disciplinares do DCSH
Caros Alunos, Professores e Funcionários da ESEN
Exmos. Convidados
Caro Dr. Fernando Nobre

A Escola Secundária de Emídio Navarro inicia hoje uma semana intensa de sensibilização para uma das maiores conquistas civilizacionais da humanidade consubstanciada nos Direitos Humanos. Uma feliz coincidência faz de 2010, por declaração da ONU, o Ano Internacional da Aproximação de Culturas e por decisão da União Europeia, o Ano Europeu de Combate à pobreza e à exclusão social. Em qualquer das vertentes a nossa escola tem sido activa e actuante, ora comprometendo-se em campanhas solidárias, ora reflectindo e actuando, em contexto curricular e extracurricular, sobre os valores que dão pleno sentido a uma educação assente na cidadania.

A primeira de tantas e tão singulares comunicações-debate caberá ao Dr. Fernando Nobre, distinto Presidente da AMI, com quem a Esc Sec. de Emídio Navarro tem uma afinidade, provavelmente e sem acinte, desconhecida do Dr. Fernando Nobre. Não resisto, com a brevidade de um mero registo recordá-la aqui: estávamos em 1999 e perante os horrores que, de Março a Setembro, tomaram conta do povo de Timor-Leste, a Escola Sec de Emídio Navarro corporizou então uma campanha a que chamou Solidariedade ESEN – Timor, angariando, há 11 anos, 360 contos, que endereçou à AMI, em 21 de Dezembro de 1999, para fazer face à sua meritória actividade de ajuda. Muitas outras campanhas têm despontado, com sucesso, do nosso sentido de cooperação. Muitos elementos da comunidade escolar se encontram comprometidos com o sofrimento do outro em estado de carência. Daqui têm saído professores Leigos para o Desenvolvimento em direcção a África. Bem-vindo, portanto, a uma escola solidária.

Esta semana reforçará, por certo, esta disposição que é transversal ao nosso sentir e porque os tempos convidam cada vez mais à solidariedade, enquanto resposta aos sortilégios da crise, referirei aqui, pelo alcance, um pequeno, mas elucidativo, texto do historiador e professor José Mattoso, a propósito de “Uma Ideia Para Portugal”, divulgado pelo Jornal
Público no passado dia 6 de Março.

Cito:

Haverá ainda lugar, no mundo de hoje, para uma concepção humanista da existência? Seja qual for o sentido que demos ao conceito, o que quero dizer é que não acredito numa ideia para Portugal senão baseada no respeito pelo Homem e pela sua dignidade. O domínio da técnica ameaça o Homem porque dá o poder mas não garante o seu bom uso. Podemos falar em esperança; mas se não sabemos o que a justifica, a sua invocação é estéril. Como podemos, no meio da crise, saber se não é apenas mais uma mentira? Só conheço uma resposta: aquela que se deduz da "conversa" entre Javé e Abraão antes da destruição de Sodoma e Gomorra: "Será que vais exterminar ao mesmo tempo, o justo e o culpado? Talvez haja cinquenta justos na cidade: matá-los-ás a todos? Não perdoarás à cidade por causa dos cinquenta justos que nela podem existir?" (Génesis., 18.23). Só Deus sabe que proporção de "justos" no conjunto de habitantes de cada cidade é suficiente para ela subsistir. Pelos vistos, Javé até se contentava com dez. Mas ninguém sabe.
O que a vida me tem ensinado é que existem mais "justos" neste mundo do que se pode saber através dos jornais. Há muitas formas de santidade oculta, nem que seja por meio do sofrimento assumido, do apaziguamento, da noção do dever. A religião católica aliada ao individualismo atrofiou o conceito de "justo". A história do Génesis propõe que se creia no efeito da acção do "justo" sobre a comunidade a que pertence em virtude do princípio de solidariedade. Os "justos" são a porção viva e sã, mas escondida, da comunidade a que pertencem. Garantem a sua capacidade de regeneração. O fundamento da esperança no futuro é o reconhecimento dos "justos" que nos rodeiam, seja qual for o meio em que vivem e o apoio que somos capazes de lhes dar na sua luta pela "justiça". Talvez isso sirva de antídoto contra a desilusão que nos causam os poderosos da finança, da política ou do espectáculo.

Fim de citação.

É anseio do Conselho Geral, estou certo, que a nossa escola, depois de uma profícua semana de reflexão, experimente e reforce uma maior disposição para o diálogo entre as culturas e as religiões e se manifeste ainda mais atenta nas suas obrigações, fundamentalmente, para com os mais vulneráveis.

Disse.

[Viseu, 22 de Março de 2010
J. Costa (Presidente do Conselho Geral)]
escrito por ai.valhamedeus

17 comentário(s). Ler/reagir:

cidadã disse...

Mas isso foi mesmo assim?
O PCG teve que pedir a palavra?
Mas esta não era a semana da cidadania e do aprender a ser com os outros?
Fica-se com a dúvida: cinismo ou exemplo?

Conselheira disse...

Por acaso, eu como conselheira do Conselho Geral,recebi um convite! Que também por acaso, recebi na segunda-feira...

Conselheira (do C.P.) disse...

Parabéns ao Presidente do Conselho Geral da Esen.
Parabéns ao Dr. Jerónimo Costa, pelo discurso proferido na Sessão de Abertura de "Ser Cidadão do Mundo".
Sensatez e justiça impregnaram as suas palavras, com as quais reavivou as "cores" da imagem da Esen, como uma escola solidária.
São palavras como as do Dr. Jerónimo Costa e as citadas no seu discurso que me dão o alento necessário para continuar a minha carreira como elemento da comunidade escolar da Secundária de Emídio Navarro.

M.S disse...

Por ter actividades docentes, foi-me impossível estar presente na Sessão de Abertura de "Ser Cidadão do Mundo".
Lamento, por não ter tido a possibilidade de ouvir tão digníssimo convidado como o Dr. Fernando Nobre.
Mais lamento, porque perdi as palavras de um Presidente do Conselho Geral como só ele sabe dizer e sentir. Porém, depois de ter tido acesso a um computador e de ler essas palavras, algo me deixou estupefacta, cito"Na sessão de abertura, o P.C.G., Dr. Jerónimo Costa, pediu a palavra...", mas não era um direito do P.C.G. usar da palavra, num ciclo de conferências como este? Teve de pedir a palavra?
Continue como é, Dr.Jerónimo Costa. É um prazer tê-lo como P.C.G., porque quero continuar a acreditar que ainda existem pessoas e profissionais que dignificam a ESEN. Parabéns!

Anónimo disse...

É inacreditável que o Presidente do Conselho Geral da ESEN,Jerónimo Costa,em última instância, tenha de pedir a palavra em actos oficiais solenes (nos quais tem voz e assento por direito próprio)para exortar a comunidade escolar que também representa (e diga-se, tem-no feito com muita substância e rara elevação!) Será por isso que o querem calar?!... De certeza que não conseguirão!

Anónimo disse...

Parabéns, Jerónimo! Foi a vitória da genuína humildade intelectual contra a arrogância estéril e mesquinha! Deste uma lição de protocolo e diplomacia a quem parece desconhecer ambos os assuntos!
Com um Presidente do Conselho Geral destes, fica a ESEN bem aconselhada!

C.C. disse...

Na sessão de abertura desta semana EXTRAORDINÁRIA,cujos louros vão todos(e inteirinhos)para o prof. de Moral(nada de confusões!),o director disse no seu eloquente discurso:«Ainda ontem me perguntaram quem organizou isto»!(Será que o ISTO quer dizer esta porcaria?!!
Contudo,boa,óptima,super-óptima,excelente foi a atitude do Pres. do Conselho Geral ao levantar-se e pedir SERVILMENTE a palavra.Fez-me lembrar aquele estudante de Coimbra que,em 1969,ousou pedir a palavra.Em Coimbra,foi o começo de uma grave crise.Na ESEN,será também o início?

C.C. disse...

Texto na sequência do anterior
QUE BONITA BOFETADA DE LUVA BRANCA!!!
Não sei se repararam,mas,em toda a sessão,todas as intervenções,incluindo as dos alunos,tiveram direito a palmas,excepto a do director!!!

Conselheira do C. G. disse...

Caro Presidente do Conselho Geral – Jerónimo Costa

Já em outra ocasião, na luta por uma avaliação justa, tive a oportunidade de dizer-te que era uma honra ter-te como colega e atrevo-me a dizer, um amigo. A dignidade, honestidade e sentido da justiça, são apanágios da tua personalidade. Digo-te uma vez mais que é uma honra ter-te como colega e agora como presidente do Conselho Geral. Nesta semana em que decorre a acção “ Ser Cidadão do Mundo – Aprender a Ser com os Outros” espero que a reflexão seja frutuosa para todos nós e que os justos sejam reconhecidos e se trabalhe para uma Escola e uma Sociedade melhor.

Anónimo disse...

O Impe...rector primeiro cortou com o lápis azul, depois pactuou com a "lei da rolha", em seguida quis tomar a "Permanente"... como se fosse o dono de todos nós!
O que é que o futuro nos reservará ainda?
Que outros coelhos vão sair da sua enigmática cartola?

Trocado da Mata disse...

Um reputado candidato à C. Municipal de Mangualde (!?), em plena campanha eleitoral para as última autárquicas, mandou dizer que "acima dele só Deus". Por alguma razão – e esta não deve ter sido com certeza – perdeu as eleições. Esta (pro)eminência parda fica-se por uns degraus mais abaixo: acima dele só a DREC! A variação mais simples, embora não seja uma formulação jurídica - de que a criatura tanto se reclama -, poderia ser: «O céu estrelado por cima de mim e a lei moral em mim.» Embora seja um pouco tarde, já não era pouco!

Luís XXI disse...

Ou então numa versão histórica sobejamente conhecida: La loi c´est moi!"

Súbdito disse...

Ou então que diga e repita:«Olhem para o que digo(e mal),não para o que faço!!!»

Subdito2 disse...

Entre o dizer e o fazer, bem podia poupar nas palavras que, está visto, não são o seu forte e nas acções que muito ficam a dever mesmo a uma ética republicana...

Jaime Cortesão disse...

Mas até já se diz na Corte: o Monarca vai abdicar em favor do Primogénito. E não é que os Infantes até parecem mais nervosos? A Monarquia tem destas coisas!... Viva a Democracia! Viva a República!

Outro súbdito disse...

Ó Jaime explica-me lá, tu que és Cortesão, nem que seja com um desenho, os infantes serão os predadores-democratas que vivem à tripa forra e nem cabem em si com tanta distinção e mordomia?
Tudinho às custas (do esbanjamento) do erário público?
Será que o Monarka só vê o argueiro no olho do vizinho e as irregularidades só o são quando cometidas pelos outros?

Zuzarte Reis disse...

Primo do Eugénio?!... Não estás bem informado, ó Cortesão!