Estou a fazer doce de abóbora. O cheirinho que alastra pela cozinha e me chega às narinas saturadas de outros cheiros menos românticos lembra-me a minha Mãe. Lembra-me outras geografias, outras temporalidades, outras ambiências. E a palavra que me suscita é ternura.
Ternura e saudade de alambanzices, de rapaduras de panelas com uma colher de pau. Quentura de útero, no frio que, a Sul, ainda não se divisa, mas que não tardará.
Intimidade e aconchego.
Que querem, estou romântica. Lamechas?
Por outras palavras, estou a ficar velha. Mas não me sinto velha, antes com uma vitalidade que me fez ir de propósito ao supermercado comprar abóboras para fazer doce.
Entrementes, irei ver o documentário “José e Pilar”, onde a palavra ternura me há-de assaltar, tenho a certeza. Vou chorar as ausências, e as saudades de algo que não tem mais existência possível, disso não tenho dúvidas.
Quando retornar, e o doce já tiver arrefecido na panela, hei-de rapar, com a ajuda de um salazar, os resíduos que se pegam teimosamente ao fundo, e deliciar-me com a doçura de momentos tão prosaicos e insignificantes, que também são constituintes dos nossos dias.
Ai, ai, é a vida!...
2 comentário(s). Ler/reagir:
Agora, ia um chá e bolachinhas com esse doce de abóbora! Delicioso!
É tão bom termos tempo para aquilo que gostamos, ou para quem gostamos! Aproveita ao máximo!
Faz-nos sentir gente!
Saudades, AMIGA!
Obrigada! A propósito, quando se faz o tal jantar?
Andas fugida, assoberbada com trabalho, não é?
Ser professor não é mole, ainda que os nossos detractores nos apelidem de analfabetos, que não fazemos nenhum, etc.
Abraço
Gabriela
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