Para não esquecer...

hoje é sábado 125 A UM HOMEM DE MAIO JÁ ESQUECIDO

O homem abriu os braços
como se fosse voar
O homem abriu os braços
Como se fosse abraçar
alguém chegado de longe

O homem abriu os braços
os braços em corpo inteiro
em ângulos rectos gritados
aos quatro cantos do espaço
aos quatro cantos do tempo

Num breve súbito instante
o vento fez dos seus braços
velas soltas desgarradas
na vertigem de partir
pásaro de asas abertas
medindo forças com tudo
no momento de cair

vertical breve na terra
com uma bala no corpo

A bala soube o caminho
o homem abriu os braços
e recortou por instantes
a dimensão do seu corpo
no ar em branco da tarde

seu pequeno corpo tosco
desfraldado pela morte

Foi tão breve foi tão breve
que o ar em branco da tarde
dessa silhueta esquiva
mal aprendeu o desenho

Mal aprendeu a bandeira
súbita frágil papoila
trémula tonta de inútil
incerta no ar parado
da tarde lenta de mais

Foi tão breve Ah! foi tão breve
que mal ficou o impulso
desse punhado de sangue
de repente arremessado
ao rosto branco da tarde

Ah! parado rosto da tarde
perfeito perfil de mármore!
[Teresa Rita Lopes]

escrito por Carlos M. E. Lopes

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Sabemos(?) quem foi este homem de Maio, que caiu na rua com balas "bem intencionadas" e que também foi cantado por Zeca Afonso na Cantiga de Maio: Maio, maduro Maio quem...
Agora tem um nome numa rua de Lisboa, creio
Gabriela